Polícia Judiciária investiga incêndio na Luz, danos podem atingir meio milhão de euros

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Centenas de cadeiras e parte da cobertura sofreram danos Foto: Marcos Borga/Reuters

A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar o incêndio provocado anteontem por adeptos do Sporting na bancada norte do Estádio da Luz e vai usar as imagens de videovigilância do recinto para tentar identificar os autores do fogo, adiantou ao PÚBLICO fonte policial, explicando que nenhuma das cinco detenções e 24 identificações no final do jogo estiveram relacionadas com o fogo.

A mesma fonte revelou que o incêndio na bancada afectou não só centenas de cadeiras (que foram empilhadas para causar o fogo), como atingiu também a estrutura da cobertura do recinto. O Estádio da Luz será hoje visitado por técnicos especializados e responsáveis da Liga, para determinar a extensão dos prejuízos. Fonte do Benfica adiantou ao PÚBLICO que, caso a cobertura tenha danos assinaláveis, os prejuízos podem atingir valores a rondar “meio milhão de euros”.

O regulamento da Liga Portuguesa de Futebol Profissional prevê que os clubes tenham de assumir as indemnizações por danos provocados pelos seus adeptos, além de estipular multas entre 250 e 2500 euros pelo comportamento incorrecto dos adeptos.

“A Liga vai esperar pelos relatórios e só depois o seu órgão de disciplina actuará dentro das suas competências, no âmbito de cada matéria em causa”, disse ao PÚBLICO fonte da Liga, que aguarda os relatórios da polícia, delegados e bombeiros.

Um dos aspectos que causaram perplexidade às autoridades policiais e aos bombeiros foi a extensão do incêndio, existindo, nesta altura, suspeitas de que os adeptos do Sporting tenham conseguido entrar no estádio com produtos inflamáveis. É que, como explicou ao PÚBLICO fonte policial, as cadeiras utilizadas nos estádios são material de combustão lenta.

Em comunicado, o presidente do Sporting disse que a direcção do clube “não se revê nos danos causados após o jogo”, mas também foi muito crítico em relação à forma como os adeptos leoninos foram tratados na Luz. “As condições dispensadas aos adeptos que pagaram o seu bilhete são, no mínimo, lamentáveis, quer pela falta de acesso de alguns sectores a unidades sanitárias, quer a bares, não sendo possível, sequer, comprar uma garrafa de água”, lê-se no comunicado de Godinho Lopes, que apoiou as declarações do vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão, que, logo a seguir ao jogo, falou de “condições pré-históricas”.

Relações muito tensas

Os dirigentes do Sporting ficaram desagradados não só pelo facto de os adeptos terem sido posicionados numa zona vedada com redes e alegadamente com lugares a menos para o número de pessoas que lá foi colocado, mas também pela demora na revista. “Não estou de acordo com o que alguns adeptos do Sporting fizeram no final do jogo, com o vandalismo das cadeiras, mas não posso deixar de referir que os adeptos do Sporting que foram agredidos, apertados, sufocados, espezinhados e humilhados não são menos do que cadeiras”, disse Bruno de Carvalho, ex-candidato à presidência do Sporting.

As polémicas antes e após o derby de sábado, aliás, provocaram um recuo na aproximação entre Benfica e Sporting. No início de Setembro, Luís Filipe Vieira e Godinho Lopes juntaram-se ao almoço para discutir assuntos de mútuo interesse, mas, quase três meses depois, as relações entre os clubes lisboetas estão no fio da navalha.

Logo após o jogo, Pereira Cristóvão insurgiu-se contra o Benfica. “Há muito tempo que passámos a pré-história. Tudo o que é regulamento de segurança foi violado. Havia dois adeptos por cadeira, quem está dentro da ‘caixa’ fica com a visão prejudicada e exigir 22 euros por isto não é sério, nem honesto. O Conselho Directivo e a SAD vão analisar isto e depois decidir”, disse o vice-presidente leonino.

O Benfica reagiu de imediato, pela voz do director de comunicação, João Gabriel, que acusou o dirigente do Sporting de fazer declarações “populistas” e “pré-históricas” e defendeu que a “caixa” em que os adeptos do Sporting foram colocados “é uma estrutura de última geração na Europa”.

Os dois presidentes não foram os principais protagonistas desta guerra de palavras, mas não hesitaram em mandar recados. “Quanto ao resto, vamos ignorar e passar ao lado de quem pouco se importa com as consequências das suas irresponsáveis palavras e actos”, disse ontem Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, em comunicado. Já Godinho Lopes respondeu que o Sporting “não se esconde atrás de declarações de funcionários da comunicação”.

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