Bolshoi perde duas das suas maiores estrelas

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“A nossa relação é verdadeira e isso é importante quando fazemos ‘Romeu e Julieta’" DR

Foi anunciada a saída da companhia de dança do prestigiado Teatro Bolshoi de Moscovo de Natalia Osipova e Ivan Vasiliev para o Mikhailovsky de São Petersburgo

No Verão, Natalia Osipova e Ivan Vasiliev desdobravam-se em entrevistas e sessões fotográficas. Estavam prestes a apresentar em Londres o "Romeu e Julieta" de Frederick Ashton e, para quem os via dançar, era fácil acreditar que aquele era o par apaixonado e trágico que William Shakespeare imaginou. A crítica elogiou-os, o público aplaudiu.

Agora as duas estrelas voltam a ser notícia porque acaba de ser anunciada a sua saída da companhia de dança do prestigiado Teatro Bolshoi de Moscovo para o Mikhailovsky de São Petersburgo, dirigido pelo coreógrafo espanhol Nacho Duato.

Não se sabe se a transferência desta "prima ballerina" de 25 anos e do bailarino principal de 22 envolveu números milionários como os das grandes figuras do futebol internacional, mas o diário britânico "The Guardian" escrevia na terça-feira que as negociações demoraram um ano e meio e que o par - no palco e na vida real - assinou um contrato de cinco anos com o Mikhailovsky.

O teatro de São Petersburgo é bem mais modesto e menos prestigiado do que o Bolshoi, mas está em clara renovação desde que, em 2007, Vladimir Kekhman, um magnata do negócio da fruta, se tornou seu director geral, aumentando consideravelmente o orçamento disponível. Sem falar em números, Kekhman garantiu à Reuters que nenhum dos dois saiu do Bolshoi por causa de dinheiro: "Não mudam por razões económicas", disse. "Para as pessoas criativas o dinheiro é irrelevante. Eles vieram para cá porque querem crescer artisticamente."

Em Janeiro, lembrava ainda o "The Guardian", Duato tornou-se no primeiro estrangeiro a dirigir uma companhia de bailado russa em 100 anos, anunciando uma viragem no reportório, que passaria a contemplar mais obras modernas e contemporâneas. Natalia Osipova e Ivan Vasiliev vão dançar pela primeira vez no Mikhailovsky, teatro fundado pelo czar Nicolau I em 1833, na gala de 1 de Dezembro (dia em que começa o seu contrato), mas o coreógrafo espanhol já prometeu para o próximo ano uma peça criada especificamente para a dupla, uma das mais promissoras do universo da dança clássica.

"A vida tornou-se demasiado acomodada para mim em Moscovo", disse Osipova à televisão russa, citada pelo norte-americano "The New York Times". "Estava a precisar de um desafio." Os bailarinos esperam que a ida para São Petersburgo lhes permita dançar mais e seja, ao mesmo tempo, uma garantia de "liberdade criativa" e de um reportório mais alargado. Vasiliev diz ainda que o Bolshoi o "tipificou", dando-lhe apenas papéis heróicos: "Agora quero desenvolver o meu outro lado, fazer personagens mais líricos."

Relação verdadeira

Os dois bailarinos deixam o Bolshoi num momento de mudança para o teatro moscovita. Concluída há semanas uma renovação do edifício que custou 515 milhões de euros e demorou seis anos, a companhia parece agora apostada em resolver os problemas de instabilidade que a têm afectado - mudou de director artístico duas vezes este ano - e está disposta a investir em novos intérpretes - contratou o seu primeiro bailarino principal americano, David Hallberg, que deixou o American Ballet Theatre, em parte, garantem os jornais americanos, porque poderia passar a dançar com Osipova regularmente. 

Em declarações à agência Associated Press, a porta-voz do Bolshoi, Katerina Novikova, lamentou a decisão dos bailarinos e manifestou a sua surpresa: "Eles não mudaram para o Ballet da Ópera de Paris, mas para o Teatro Mikhailovsky!"

Osipova e Vasiliev atribuem parte do seu sucesso ao facto de serem um casal. "A nossa relação é verdadeira e isso é importante quando fazemos ‘Romeu e Julieta'", disse o bailarino ao "Telegraph" quando estiveram a dançar em Londres, no Verão. O "espírito", a palavra que Vasiliev usa para se referir à alma que aliam a uma técnica sem falhas, é-lhes natural, escreveu Laura Thompson no jornal britânico. Osipova é pequena e só aparentemente frágil, o paradigma da bailarina clássica. Vasiliev é um intérprete intenso, perfeito - é impossível não pensar em Nureyev quando ele dança, por exemplo, "Le Jeunne Homme et la Mort", de Roland Petit. Thompson não tem dúvidas: "São especiais, o par de uma vida."

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