News of The World: vigilância de celebridades em “escala industrial” incluía Mourinho

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News of The World fechou as portas em Julho, após várias acusações de escutas ilegais Foto: Ian Nicholson/Reuters

Derek Webb trabalha como detective privado desde 2003, quando deixou o emprego na polícia britânica. Nesse mesmo ano, foi contratado pelo News of The World para seguir várias figuras públicas. Até ao fim do jornal, em Julho, vigiou mais de 100. Acredita que não fez nada de mal, mas decidiu revelar o que sabe sobre o assunto.

O detective pôs nas mãos dos jornalistas da BBC um dossier que, segundo a estação de televisão, prova que o extinto semanário da News International tinha montada uma estratégia de vigilância em “escala industrial”. O príncipe William, uma ex-namorada do príncipe Harry e Peter Goldsmith, antigo procurador-geral britânico, são algumas dos nomes que figuram nos documentos, onde se encontra um português: José Mourinho.

Os alvos eram celebridades em geral, da família Real aos políticos e às estrelas do futebol, da televisão e do cinema. Os pais de Daniel “Harry Potter” Radcliffe, por exemplo, fazem parte da lista. Derek Webb reitera assim que o News of The World (NoW) não estava apenas interessado nas figuras públicas, mas também nas suas relações e pessoas mais próximas.

“Durante esse tempo, trabalhei extensivamente para eles em muitos serviços. Nunca sabia quando iria ser preciso. Ligavam-me de dia ou de noite. Poderia [o serviço] ser em qualquer parte do país”, declarou à BBC Derek Webb, treinado em vigilância pelo MI5. O detective confirmou ainda que estas práticas não eram apenas do conhecimento de um grupo restrito no NoW: “Recebi telefonemas de numerosos jornalistas da redacção”.

Derek Webb assegura que nunca questionou quem o contactava sobre as razões que levavam o jornal a querer seguir determinada pessoa. E está convicto de que não fez nada que o envergonhasse. “O News of The World contratou-me para um trabalho, que eu fiz o melhor que podia. Nunca violei vidas privadas, propriedades privadas... Nunca fiz nada que fosse ilegal”, afirmou.

O seu trabalho consistia em anotar o que os alvos vestiam, que carro utilizavam, com quem se encontravam e as horas a que tudo isso acontecia – “as horas eram muito importantes”. “Não me sinto envergonhado”, diz, para logo reconhecer ter contribuído para histórias que acabaram por arruinar a vida de algumas figuras públicas. “Se não fosse eu a fazê-lo, seria outro qualquer”, justifica-se.

O News International, que detinha o semanário, não comenta. Derek Webb, no entanto, considera que o grupo de media de Rupert Murdoch está em dívida para com ele. O detective reivindica uma compensação financeira pela “lealdade” ao jornal, tal como fez com outros freelancers. Os responsáveis pelo NoW recusaram e Webb decidiu pegar na sua história – e nos nomes que guardou – e ir bater à porta da televisão pública.

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