Ongoing anuncia reality show para a China, onde a TV "vulgar" está a perder espaço

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José Eduardo Moniz, vice-presidente da Ongoing, diz estar a negociar "novos projectos" na China Foto: Rui Gaudêncio

A popularidade dos relatity shows está a incomodar as autoridades chinesas, que vão impor novas e mais restritivas regras à emissão deste tipo de programas. A decisão do regulador do sector, que os quer substituir por programas mais “edificantes”, surgiu um dia antes de a Ongoing anunciar o investimento num reality show para a China.

O uMan, que o grupo empresarial português tem também anunciado para Portugal, é o nome do programa que deve estrear na Primavera em Guangdong, a mais populosa província da China, com cerca de 102 milhões de habitantes. Fica no sul, incluindo geograficamente as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong.

É a primeira iniciativa da Ongoing no país. “Estamos na China num modelo de co-produção e as relações de confiança que conseguimos estabelecer podem ter continuidade noutras acções. Já começámos a negociar outros projectos”, revelou à agência Lusa o vice-presidente da empresa, José Eduardo Moniz.

O projecto resultou de dois anos de contactos com empresas e instituições chinesas do sector, incluindo a Administração Estatal do Cinema, Rádio e Televisão, o regulador que agora quer ver menos relatity shows a serem emitidos na China.

A estreia de uMan está prevista para o “final do primeiro trimestre de 2012”. José Eduardo Moniz e o responsável da Ongoing para a Ásia, Fernando Maia Cerqueira, já estiveram em Cantão, capital de Guangdong, para participar na formação dos quadros locais que vão conduzir o programa, que pode chegar a outras províncias do país.

A estratégia de investimento e expansão do grupo de media português para aquele país contraria, no entanto, as regras decretadas esta semana pela Administração Estatal do Cinema, Rádio e Televisão: a partir de 1 de Janeiro, o número de reality shows será reduzido, os horários de emissão alterados e a importação de formatos estrangeiros será, segundo a correspondente do Guardian em Pequim, “provavelmente” limitado.

As estações de televisão das províncias chinesas não vão poder emitir mais de dois programas de entretenimento durante o horário nobre (entre as 19h30 e as 22h). A esta regra genérica acrescem outras, que regulam formatos específicos. Os concursos de talentos, por exemplo, ficarão circunscritos, em todo o país, a um máximo de dez por ano – e têm de ser todos diferentes.

A Administração Estatal do Cinema, Rádio e Televisão “encoraja” os responsáveis pelos canais chineses a ocupar este tempo de antena com programas “edificantes”. O regulador deixa algumas propostas: “programas harmoniosos, saudáveis e para todos, como [programas] de cultura e apreciação da arte, história, geografia e astronomia, e [os que se debruçam sobre o] bem-estar público”, cita o Guardian.

O uMan, criado por uma empresa israelita, é uma derivação do seminal Big Brother. Há um grupo de concorrentes fechado numa casa, que têm de se comportar conforme decide quem os está a ver, os consumidores. A interacção do público é feita online e por telemóvel. Quem não obedecer, é expulso.

“Estamos a tentar acompanhar a cadência do que está a acontecer e a aproveitar as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias”, explicou ainda José Eduardo Moniz. “A televisão mudou, por via das novas tecnologias, e vai depender cada vez mais dos consumidores. O espectador, agora, tem a oportunidade de interagir com os programas.”

A Ongoing está a preparar-se para estrear o uMan em Portugal e no Brasil, uma vez que detém os direitos do programa para os países de língua portuguesa. Deve acontecer no próximo ano, tal como na China. Resta saber se o recente crivo chinês não porá em causa a continuidade do uMan neste país.

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