Maratona, um mundo bizarro em que qualquer um pode ser herói

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A maratona pode não ser uma prova só para especialistas Amber Miller, a mulher que participou na corrida de Chicago grávida de 39 semanas, deu à luz pouco depois do fim da prova Eddie Keogh/Reuters

Empenhado em mostrar ao filho Kyle, decidido a abandonar o basquetebol, que os homens não desistem, um Jim completamente fora de forma inscreve-se na maratona. Ciente das suas limitações físicas (leia-se excesso de peso), entra num cabeleireiro, com o intuito de sair pela porta traseira, colocada estrategicamente perto da linha de meta, faz horas enquanto faz as unhas e sai para a rua mesmo a tempo de ser coroado vencedor.

Aquilo que, para os mais cépticos, nunca sairia do guião que Tracy Newman e Jonathan Stark criaram e James Belushi interpretou em According to Jim é apenas uma caricatura de um episódio da vida real criado, produzido e realizado por Rob Sloan. Não se sabe se o inglês se inspirou no episódio número 111 da série cómica norte-americana, mas as semelhanças são mais do que muitas: como Jim, também Sloan usou um "atalho" - neste caso, a boleia de um autocarro - para subir ao pódio como dono da medalha de bronze da maratona de Kielder. Tal como a personagem da ficção, também o atleta real ficou com os louros, queixando-se da dureza da prova.

A "batotice" do antigo mecânico, de 31 anos, só foi descoberta, porque testemunhas viram-no apanhar o autocarro, viajar dentro dele, descer junto a um bosque e apanhar a frente da corrida para cortar a meta em duas horas e 51 minutos, um tempo 21 minutos melhor do que o seu anterior registo em Kielder.

Sloan, que, depois de qualificar como "ridículas" as acusações, admitiu o erro e se desculpou junto da organização, juntou-se assim a Rosie Ruiz que, em 1980, na maratona de Boston ganhou a prova depois de se juntar aos outros atletas apenas no último quilómetro.

Um parto à chegada

Mas os curiosos casos da maratona nas últimas duas semanas não acabam por aqui. Antes de Sloan, foi notícia Amber Miller, a mulher que decidiu participar na prova de Chicago grávida de 39 semanas. Ela correu, andou durante seis horas, 25 minutos e 50 segundos. Com as contrações a aparecerem na recta final dos 42,195 quilómetros, Miller teve tempo para repor energias antes de ser transportada para o hospital, onde deu à luz June.

"Tive uma conversa com os meus pais e perguntei-me: "Por que não participar? Não tenho intenções de acabar"", começou por contar aos jornalistas, enquanto aguardava para saber se as contrações eram mesmo sinal inequívoco de trabalho de parto. O plano era correr metade do percurso, dirigir-se para o final e atravessar a linha. Mas Miller continuou. "Não foi assim tão mau, sabem?", disse. Complicado para a mulher de 27 anos foi mesmo o trabalho de parto: "Foi mais difícil que correr a maratona."

Uns dias depois, mais acima no hemisfério Norte, mais concretamente em Toronto, Fauja Singh tornava a especialidade novamente motivo de notícia. Afinal, foi a primeira vez que um centenário terminou uma maratona.

O "Tornado de Turbante", movido a chá, caril e boas energias - "O segredo é não ter stress. Se há algo que não conseguimos mudar, então por que ficar incomodado? Sê agradecido por aquilo que tens, afasta-te das pessoas que são negativas, sorri e continua a correr" -, precisou de oito horas, 26 minutos e 16 segundos, para correr a distância. E, rumo ao livro do Guinness, o britânico nascido na Índia, em 1911, ainda se pode orgulhar de, não só ter batido o seu objectivo pessoal (as nove horas), como também de não ter terminado em último lugar (foi 3850.º , à frente de cinco participantes).

Antes dele, já outros "veteranos" tinham tentado a sua sorte: o britânico Wilf Cooper, de 90 anos, escapuliu-se de casa (e da mulher) para participar em maratonas e a norte-americana Gladys Burrill, de 92 anos, demorou nove horas, 53 minutos para completar a maratona de Honolulu, no Havai, em Abril, tornando-se na mais velha mulher de sempre a fazê-lo.

No entanto, há mais curiosidades genéticas além da idade. Exemplo disso é Kelly Gneiting, o campeão norte-americano de sumo, que, com 182 quilos, quebrou a marca de homem mais pesado de sempre a completar a maratona, na de Los Angeles, e entrou no Guinness.

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