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Quem é que vai confiar em alguém que só mostra uma foto de uma criatura mítica no seu perfil?

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Catarina Oliveira Alves

“People want to go on the internet and check out their friends. Why not build a website that offers that? Friends, pictures, profiles, whatever you can... visit, browse around, maybe it’s somebody you just met at a party. I’m not talking about a dating site. I’m talking about taking the entire social experience of college and putting it online.”

The Social Network

O que a vida digital nos trouxe foi a possibilidade de contornarmos as barreiras que a nossa vida analógica nos impunha: origens sociais, geográficas, restrições no nosso próprio conhecimento e interesses pessoais, tudo isso desaparece online.

As redes sociais têm a sua origem nos "chats" e nos fóruns onde toda a gente se encontrava há apenas 10 anos. Os veteranos da "web" reagem da mesma forma às iniciais mIRC como os meus pais aos telefones fixos, daqueles com uma rodela para marcar o número.

Mas provavelmente a grande evolução foi na forma como a nossa actividade online girava à volta de gostos e interesses, para agora ser cada vez mais à volta de quem somos e no que queremos partilhar. No Facebook cada um representa-se como é para ir além dessas barreiras.

Se antes os utilizadores usavam avatares e identidades um tanto ou quanto fantasiosas para cativar outros utilizadores, hoje é a identidade real que nos fascina. Quem é que vai confiar em alguém que só mostra uma foto de uma criatura mítica no seu perfil sob um nome que parece ter sido retirado do Harry Potter ou do Senhor dos Anéis?

O que queremos saber é quem é essa pessoa, o que faz, qual é o clube do coração, bandas, filmes e livros favoritos, a que bares vão, e, acima de tudo, se a relação deles é complicada. O Facebook quer ser o registo da nossa identidade para nós, um livro de recortes digital que cruza toda a informação a que lhe dermos acesso.

Mais, quer ser o espaço de onde não temos que sair, uma internet dentro da internet, com os vídeos, as notícias, os blogs, os jogos, tudo o que precisamos dentro do mesmo espaço e adequado ao nosso perfil. E eles sabem do que precisamos porque lhes contamos tudo em troca da organização e manutenção da nossa vida digital até ao mais íntimo detalhe, se o permitirmos e o partilharmos.

Alguém definiu o modelo de negócio do Facebook assim: "O desejo de privacidade é forte; a vaidade é mais forte ainda." Estamos fartos de redes sociais? Claro que sim. Estaremos cansados de nós mesmos? Ainda não. E é por isso que vamos ficando, onde somos imortais, populares e em tempo real, melhores do que somos lá fora.

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