Um festival para “tramar" o Porto durante quatro dias

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O Trama 2011 vai sair de Serralves e espalhar-se pela cidade do Porto DR

Haverá concertos, performances, dança, instalações, cinema, teatro, conferências, e até uma corrida de carros telecomandos sobre uma pista de vinil...

Será assim na sexta edição do festival Trama, que vai decorrer de 13 a 16 de Outubro em vários espaços - convencionais uns, outros nem tanto - da cidade do Porto. "Gostava que o Porto fosse uma cidade tramada", disse hoje João Fernandes, director artístico do Museu de Serralves, na apresentação do programa deste festival que já ganhou raízes e deixou marcas no calendário urbano portuense.

Como tem acontecido nas edições anteriores, o Trama 2011 vai sair dos muros de Serralves e mostrar as potencialidades cénicas, e mesmo dramáticas, de múltiplos lugares na Baixa portuense, da estação de S. Bento ao Museu Militar, do Ateneu Comercial à Livraria Latina, do Hotel D. Henrique à Faculdade de Belas Artes e de Letras, do Passos Manuel ao Lofte e também ao espaço público... Ao todo, estarão em cena 37 projectos reunindo 92 participantes de 18 nacionalidades; uma trama de experiências estéticas singulares e colectivas que as programadoras Cristina Grande a Rita Castro Neves apresentam como "uma conspiração de artistas, que acrescenta cidade à cidade".

O programa abre ao final da tarde (19h00) do dia 13, no auditório da Faculdade de Belas Artes, com o professor, músico e artista multidisciplinar canadiano Christof Migone a fazer a conferência "Sonatic Somatic: Performances of the Unsound Body", na exploração sonora do corpo e da linguagem; e encerra, na noite de 16 de Outubro, no Auditório de Serralves, com um prometedor concerto para 15 extintores pelo músico sueco Sven-Äke Johansson.

Entre tudo o que irá acontecer pelo meio, aqui ficam algumas notas. Na área da performance, WOL é um duo sueco (Lovisa Johansson+Wenche Tankred) que se estreia em Portugal apresentando no Porto três peças diferentes, "Wheel Barrow Poetry", "Etude in Red" e "Cincumflex" - trabalhos sobre o tema da moda e questões de género, em performances visuais e sonoras que questionam as convenções sociais. Outro performer com presença repetida no programa será Paulo Mendes, com as intervenções "S de Saudade, Restos de Colecção", "S de Saudade, a Tortura da Memória" e "Silêncio, ordens, preces, ameaças, elogios, censuras, razões, que querem que eu compreenda do que eles dizem", todas elas tendo em comum o desejo de abordar os anos do Estado Novo e de "tratar o apagamento da memória da História portuguesa, e de uma sociedade que não conseguiu ainda exorcizar e libertar-se da fantasma de Salazar", explicou hoje o artista na conferência de apresentação do Trama.

Na música, o alinhamento começa com uma "laser performance" do australiano Robin Fox, que imerge o público numa "experiência sinestésica tridimensional", como é descrito no programa. O já referido Sven-Äke Johansson estará igualmente várias vezes em cena, a apresentar também os projectos a solo "Tüüt" e "Wepa", oportunidade para contactar com o momento actual da carreira de um percussionista veterano que marcou a vanguarda artística desde a década de 60. Cathy Van Eck, artista com a dupla nacionalidade holandesa e belga, apresenta "Wings" e "Hearing Sirens", dois projectos baseados na manipulação de microfones e de altifalantes e também de mp3, envolvendo o público no espectáculo. Do Japão, o compositor, videasta e designer Chikashi Miyama traz "Angry Sparrow" e "Black Vox", espectáculos de natureza "quasi-improvisacional" que tratam a música a partir de dispositivos electrónicos e de computadores. A alemã Andrea Neumann regressa a Serralves, onde já participou no ciclo "Improvisações/ Colaborações", reúne-se a quatro portugueses - Ana Luísa Veloso, Diana Combo, Filipe Silva e João Martins - para um espectáculo de improvisação sonora e gestual com base num piano "desmantelado".

Na dança, destaque para a presença do coreógrafo francês Xavier Le Roy & Guests, que apresentará "Low Pieces", uma peça envolvida em silêncio, que questiona as próprias convenções do espectáculo e da separação palco-plateia. E a dupla luso-belga Peter Ampe & Guilherme Garrido, com "Still Standing You", explora, com grande intensidade física, a sua própria relação enquanto artistas e homens.

Susana Mendes Silva traz de regresso a figura do famoso Repórter X/Reinaldo Ferreira, num programa que propõe uma visita guiada aos lugares portuenses deste jornalista, poeta, dramaturgo e realizador, que, no final da década de 1920, rodou nos estúdios da Invicta os filmes "Rita ou Rito?" e "Táxi 9297" - ambos serão exibidos, em conjunto com a biografia que o realizador José Nascimento dedicou, em 1986, ao autor de "Memórias de um Ex-morfinómano".

O calendário do Trama 2011 inclui ainda instalações da francesa Caty Olive ("Diacaustiques des Esprits"), da dupla portuguesa Manuela São Simão & Pedro Lopes ("Gibberish") e do australiano Lucas Abela, naquele que poderá afirmar-se num dos momentos mais procurados do festival, com "Vinyl Rally", "uma instalação interactiva de grande escala que cruza arte sonora, escultura, vídeo, novos media e desportos de competição". Ou seja, num dos armazéns da Estação de S. Bento, Abela promove uma corrida de carros telecomandados - em que os espectadores poderão igualmente participar - sobre uma pista formada pelos velhos disco em vinil que Serralves tem vindo a pedir aos portuenses, e que aí têm chegado em razoável número.

Os espectáculos do Trama terão todas acesso gratuito, à excepção dos que ocorrem à noite, cuja entrada custa cinco euros.

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