Sistema de alerta de tsunamis testa hoje as comunicações

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O tsunami de 2004 no Sudoeste asiático levou a UNESCO a avançar com a criação de sistemas de alerta precoce Foto: Reuters/arquivo

A UNESCO quer que haja avisos da ocorrência de uma onda gigante minutos após um sismo no Atlântico Nordeste e Mediterrâneo.

Portugal está entre os 31 países que hoje vão testar as comunicações do futuro sistema de alerta precoce de tsunamis, que a UNESCO está a criar para o Atlântico Nordeste, Mediterrâneo e outros mares na região. Nesta primeira fase, o sistema em Portugal está praticamente pronto, mas falta decidir politicamente se se avança.

No teste, a mensagem de um suposto tsunami será emitida pelo Observatório e Instituto de Investigação de Sismos de Istambul, na Turquia. Seguirá para os centros nacionais que, em cada país, ficarão responsáveis pelo sistema de alerta. Em Portugal, deverá ser o Instituto de Meteorologia.

"Este exercício é para ver o tempo que os operadores nos centros demoram a reagir às mensagens. Não envolve a população. O sistema ainda não está nessa fase", explica Maria Ana Baptista, do Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa, que em Portugal coordena este projecto com Fernando Carrilho, director do Departamento de Sismologia do Instituto de Meteorologia (IM). "Isto deve revelar possíveis disfunções na disseminação dos alertas. A transmissão rápida de dados e a reacção dos centros nacionais são cruciais para a eficácia do sistema", refere uma nota da UNESCO.

Estas regiões já foram abaladas por sismos fortes seguidos de tsunamis, que, por exemplo, em 1755 arrasaram Lisboa, matando cerca de dez mil pessoas, e em 1908 causaram a morte a 85 mil pessoas em Messina, na Sicília.

Depois do tsunami de 2004 no Sudoeste asiático, com a morte de mais de 200 mil pessoas, a UNESCO decidiu criar sistemas de alerta tanto no Índico como no Atlântico Nordeste e Mediterrâneo. Só existia então o sistema do Pacífico e Caraíbas, mantido pelos EUA com outros países. Agora já há alerta de tsunamis no Índico.

Falta a decisão política

Mesmo sem bóias no mar - para transmitir a detecção de um sismo e da variação na altura da coluna de água -, o sistema no Atlântico Nordeste e Mediterrâneo pode começar a lançar avisos só com base nos registos de estações sísmicas em terra. Usando esses registos, o IM consegue calcular, em cinco minutos, a magnitude, a localização e a profundidade de um sismo, refere Fernando Carrilho.

Se o epicentro for no mar, se a magnitude for superior a 6,5 graus e a profundidade igual ou inferior a 30 quilómetros, o IM pode estabelecer a potencialidade de geração de um tsunami, embora com falsos alarmes, e enviar uma mensagem à Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), que difunde os avisos à população.

Embora o IM tenha capacidade de prever a ocorrência de um tsunami só com base num sismo, ainda não pode enviar mensagens de aviso à ANPC. "Não se pode operacionalizar nada enquanto não houver esse mandato do Governo", diz Maria Ana Baptista. "O IM não pode fazer um alerta de tsunami, porque isso não está nas suas funções. E é preciso que a Protecção Civil operacionalize a gestão de uma emergência desta natureza."

Em 2012, só a Turquia e a França, diz Maria Ana Baptista, terão esta parte operacional: "São os únicos em condições de transmitir mensagens às populações". Por que não fez o mesmo Portugal? "Essencialmente, por uma questão de decisão política. Se as coisas forem baseadas no alerta sísmico, nem é preciso muito dinheiro. Não são milhões de euros", diz Maria Ana Baptista. "A decisão política tem sido pedida, mas ainda não foi possível avançar de facto", acrescenta Carrilho.

No passo seguinte entram os marégrafos, que aumentarão a eficácia do sistema, com a detecção da chegada da onda. O IM já acede a quatro marégrafos, mas é preciso ter em tempo real dados de mais seis ou sete, diz Fernando Carrilho. "Isso não é muito caro, são alguns milhares de euros."

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