Yingluck Shinawatra é a primeira mulher a chefiar Governo tailandês

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Yingluck Shinawatra beneficiou da popularidade do irmão Foto: Damir Sagolj/Reuters

Yingluck Shinawatra foi escolhida para liderar Governo. O grande desafio é evitar regresso da violência política. Dimensão da vitória pode afastar tentações golpistas do Exército.

Há situações em que se ganha por interposta pessoa, como mostram as eleições legislativas de ontem na Tailândia. Os eleitores deram a maioria absoluta ao Puea Thai, partido do ex-primeiro-ministro no exílio, Thaksin Shinawatra, liderado pela sua irmã, Yingluck, 44 anos, que chegou à política há menos de dois meses.

O Puea Thai (Partido para os Tailandeses) tinha conseguido 263 dos 500 lugares do Parlamento quando, ontem à noite, estavam contados 97 por cento dos votos. O Partido Democrata, do chefe do Governo, Abhisit Vejjajiva, elegera 161.

As eleições foram, como se previa, um referendo a Thaksin, chefe do Governo entre 2001 e 2006, afastado por um golpe militar, que goza de enorme popularidade junto das massas desfavorecidas. Os seus aliados venceram todas as eleições da última década. "Não sei até que ponto amam Thaksin. Mas podem partilhar um pouco desse amor comigo, a sua irmã mais nova", repetiu, segundo a AFP, Yingluck Shinawatra na campanha.

As reacções do campo vitorioso foram a duas vozes: a de Thaksin e a de Yingluck. "Thaksin telefonou para nos felicitar e dizer que nos espera um trabalho difícil", disse, logo depois de conhecidas as primeiras projecções, esta empresária que, se nada de anormal acontecer, será a primeira mulher a chefiar um Governo no reino da Tailândia. "O povo deu-me uma oportunidade. Vou fazer o meu melhor", afirmou mais tarde.

Licenciada em Ciência Política pela Universidade de Chiang Mai e graduada em Administração Pública pela Universidade de Kentucky, nos EUA, Yingluck Shinawatra, que o próprio irmão descreveu como o seu "clone", prometeu retomar políticas de melhoria de condições de vida dos mais pobres seguidas por Thaksin - como o crédito barato e cuidados de saúde universais.

Na campanha, Yingluck revelou naturalidade e carisma a lidar com multidões. Mas falta saber quase tudo sobre a sua capacidade política. "Até agora, seguiu o que Thaksin lhe pediu que fizesse. Penso que ainda não vimos aquilo de que é capaz", referiu à AFP um diplomata ocidental.

A forma como os resultados forem recebidos pelos outros poderes, designadamente o Exército e a monarquia, é fundamental para o futuro próximo de um país que, nos últimos anos, tem sido pautado pela violência política.

Logo que foram conhecidas as primeiras projecções, na sede do Puea Thai os militantes celebram a vitória. "Yingluck número um", "Yingluck primeira-ministra", gritou-se em ambiente de festa. Mas entre os apoiantes existia também o receio de que possa ser impedida de governar.

Em busca de estabilidade

Mesmo com maioria absoluta, o Puea Thai tenciona fazer uma coligação. Yingluck afirmou que já contactou um partido minoritário e disse preferir envolver outras forças na governação. É também essa a vontade de Thaksin, que a partir do Dubai, onde está exilado, considerou necessário um entendimento pós-eleitoral. "Não é bom para o Puea Thai trabalhar só." A uma estação televisiva local, disse esperar que todos respeitem os resultados para que o país tenha paz.

A estabilidade pode depender de Thaksin, magnata das telecomunicações, odiado pelas elites administrativas e militares, que, como refere a AFP, o vêem como uma ameaça à monarquia. Na campanha, Yingluck defendeu uma amnistia geral, incluindo para o irmão. Mas ontem disse que o assunto terá de ser analisado por uma entidade independente e não poderão ser adoptadas decisões à medida de um homem só.

O assunto foi também abordado por Abhisit Vejjajiva, para quem os resultados não significam que os eleitores "tenham dado um mandato em branco a quem quer que seja". O seu partido, insistiu, vai opor-se a "qualquer tentativa de amnistia".

Consciente de que o seu regresso é malvisto pelos opositores, Thaksin foi prudente. "Não tenho que voltar a correr... Não quero causar problemas voltando", disse, apesar de sublinhar que tenciona assistir ao casamento da filha, previsto para Dezembro.

O antigo chefe do Governo fugiu do país antes de ser condenado a dois anos de prisão pela acusação de desfalques, em 2008, e é acusado de ter apoiado as manifestações que, no ano passado, deixaram o país no limiar da guerra civil - cerca de cem mil camisas vermelhas, fiéis na sua maior parte a Thaksin, ocuparam durante dois meses o centro de Banguecoque para reclamarem a demissão de Abhisit. Acabaram por ser desalojados numa verdadeira acção de guerrilha urbana em que o Exército se empenhou e que provocou mais de 91 mortos e quase 2000 feridos. "Se puser um pé na Tailândia, o Exército poderá acusá-lo de tentar criar desunião entre os tailandeses", disse à AFP Pavin Chachavalpongpun, do Instituto de Estudos do Sudeste Asiático em Singapura.

A reacção dos militares é sempre uma incógnita, num país com um longo historial de golpes. O chefe do exército, Prayut Chan-O-Cha, apelara ao voto nas "pessoas certas", mas a dimensão da vitória do Puea Thai pode tornar mais difícil uma intervenção.

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