A rua dele

Uma visita (mais ou menos) guiada pelo universo da "street art". Não é muito bom, mas é minimamente útil.

O primeiro filme de Banksy, um "artista de rua" inglês de identidade indefinida, tem causado sensação, com apogeu, já este ano, na nomeação de "Pinta a Parede!" ("Exit Through the Gift Shop" é o título original) para o "scar de melhor documentário (que não ganhou). Não é recomendação por aí além, com certeza, atendendo ao tipo de filmes que por norma a Academia entende serem os "melhores documentários" do ano - predomínio do tema, preferencialmente "importante", em detrimento de qualidades formais ou cinematográficas (foi por isso que ganhou "Inside Job").

Por mais rebelde que seja Banksy, o seu filme também é assim, um objecto razoavelmente banal, por certo muito menos entusiasmante do que algumas das suas peças ("graffitis" ou "instalações") que vemos registadas por "Pinta a Parede!".

Não é totalmente banal porque guarda uma reserva de sofisticação, empregue com alguma panache e um sentido de humor "deadpan" - de resto, e falamos da história do protagonista do filme, Thierry Guetta, tem sido isso (saber se se trata de um embuste ou não) a manter vivos o interesse e o debate sobre o filme de Banksy.

Digamos que a história de Guetta, um suposto "homem da câmara de filmar" (muitíssimo inábil) interessado em documentar o trabalho dos "street artists", é um bocadinho inacreditável, e que é fácil pensar que se trata apenas de um grande "gag", bastante elaborado ("filme no filme", simulação de "objet trouvé"), para trazer sal e pimenta ao que é, basicamente, um filme sobre a "street art" (de Banksy e de outros artistas), e que, feitas bem as contas, tem nessa característica o seu aspecto mais interessante.

Aprende-se alguma coisa, numa espécie de visita (mais ou menos) guiada por um universo artístico específico, fazem-se as ligações que é preciso fazer (da potência contestatária do "punk" ao regime, clandestino e interventivo, que norteia as peças de Banksy), dissipa-se a fronteira entre a arte de rua como experiência "gráfica" e a arte de rua como pura performance (as "Guantanamo dolls" na Disneylândia, "fallait y penser"). Não é muito bom, mas é minimamente útil.

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