Realizador Lars Von Trier choca Cannes ao autoproclamar-se nazi

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Lars Von Trier na polémica conferência de imprensa em Cannes Reuters

O realizador dinamarquês Lars von Trier, que apresentou esta quarta-feira no Festival de Cannes o filme "Melancholia", em competição pela Palma de Ouro, chocou os presentes na conferência de imprensa ao revelar que é um simpatizante de Hitler

Lars von Trier já é conhecido pelo seu jeito provocador mas desta vez ultrapassou os limites aceitáveis pela imprensa que não percebeu os comentários e piadas anti-semitas do dinamarquês.

"Eu achava que era judeu e era muito feliz por isso. Mas depois descobri que na verdade era nazi", contou o realizador na conferencia de imprensa depois de ter sido questionado sobre as suas raízes germânicas, descobertas depois da morte da sua mãe em 1989. "Como sabem, a minha família era alemã... O que também me deu algum prazer."

Como se não bastassem estas declarações para levantarem a consternação em Cannes, Lars von Trier continuou, afirmando compreender Hitler. "O que posso dizer? Eu compreendo o Hitler. É claro que ele fez algumas coisas erradas mas eu consigo imaginá-lo no fim sentado no seu abrigo... Eu simpatizo com ele, um bocadinho."

Segundo o britânico "The Guardian", depois de ter percebido que as suas declarações estavam a chocar os jornalistas presentes e mesmo Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst, as actrizes protagonistas no seu recente trabalho, Lars von Trier tentou rapidamente remediar a situação, explicando que o facto de compreender Hitler não significaria que era a favor da Segunda Guerra Mundial. "Nem sequer sou contra os judeus. Na verdade, sou muito a favor deles. Todos os judeus", acrescentou o realizador, deitando por terra a sua defesa em relação aos judeus quando decide mencionar Israel como "uma pedra no sapato, mas.."

Sempre num tom irónico e humorístico, o realizador de "Ondas de Paixão" (Grande Prémio do Júri em Cannes, 1996), "Dancer in the Dark" (Palma de Ouro, 2000) e "Dogville" não conseguiu emendar as polémicas declarações e acabou por chocar ainda mais, desviando a conversa para Gainsbourg e Dunst e as suas actuações em "Melancholia".

As actrizes, que já estavam com ar incrédulo, não esconderam a admiração quando von Trier as referenciou num tom machista, afirmando que Kirsten Dunst insistiu para ser filmada nua, posição apoiada por Charlotte Gainsbourg. "É assim que as mulheres são, e a Charlotte está por trás disto. Elas agora quem um filme hardcore e estou a fazer o meu melhor. Eu disse para termos muito diálogo e elas disseram que não queria saber das conversas e que só queriam muito muito sexo. É o que estou a escrever agora", contou o dinamarquês.

A organização da 64ª edição do Festival de Cannes não aprovou as declarações e exigiu uma explicação ao realizador de 55 anos, que imediatamente pediu desculpa. "Se ofendi alguém esta manhã com as palavras que disse na conferência de imprensa, eu peço as mais sinceras desculpas", escreveu Lars Von Trier em comunicado. "Eu não sou anti-semita nem preconceituoso ou racista em nada, nem sequer sou nazi."

Apesar do pedido de desculpas, as declarações do realizador foram o centro das atenções do dia de hoje em Cannes. A imprensa internacional reproduziu estas afirmações em todo o mundo e as manifestações contra Von Trier têm sido muitas. Há quem defenda que o realizador devia ser retirado da competição oficial de Cannes.

A Associação Americana das Vítimas do Holocausto e dos seus Descendentes já tornou pública a sua posição em relação caso, condenando veemente a postura de Lars Von Trier. "É uma exploração do sofrimento das vítimas para se auto promover e publicitar", acusa a organização. "Não podemos avaliar o seu filme, mas como pessoa Von Trier é um fracassado moral."

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