PJ descarta envolvimento de redes de pedofilia no caso Rui Pedro

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Testemunhas ouvidas no processo garantem ter visto Rui Pedro entrar no carro de Afonso naquele dia 4 de Março Marco Maurício

As pistas que apontavam para que Rui Pedro - desaparecido a 4 de Março de 1998, em Lousada, quando tinha 11 anos - tivesse sido apanhado por uma rede de pedofilia internacional não se confirmaram e foram "totalmente afastadas", diz José Monteiro, coordenador de investigação criminal na Polícia Judiciária (PJ). E garante que há vários depoimentos "absolutamente inequívocos" que sustentam aquela que é a primeira acusação neste processo.

No sábado ficou a saber-se que o Ministério Público avançou com uma acusação de rapto qualificado contra um amigo de Rui Pedro. Chama-se Afonso D., tem hoje 34 anos, é motorista, e já tinha sido ouvido e constituído arguido em Novembro de 1999.

A acusação de rapto, neste caso, explica José Monteiro, significa o seguinte: Rui Pedro desapareceu há 13 anos de um determinado local, segundo a PJ, pela mão de Afonso D.; o menino foi "astuciosamente seduzido para ir a outro sítio", para manter relações sexuais com uma prostituta, e aí foi visto pela última vez. "Isto são factos que integram a prática do crime de rapto. Sobre o que aconteceu a seguir não temos provas."

Caso Afonso venha a ser julgado (antes ainda pode pedir a abertura da instrução, para tentar provar que a investigação foi mal feita) e condenado, José Monteiro diz que "é quase inevitável" que seja aberta "uma nova investigação". Isto se não se apurar, no julgamento, o paradeiro de Rui Pedro.

Testemunhas ouvidas no processo garantem ter visto Rui Pedro entrar no carro de Afonso naquele dia 4 de Março. Alguns colegas do rapaz, na altura crianças, hoje adultos, voltaram, "na fase final da investigação", a ser inquiridos, em salas separadas e em simultâneo, "e não fugiram praticamente nada da versão que tinham dado inicialmente".

Uma prostituta contou também aos investigadores que nessa mesma tarde Afonso tentou convencê-la a manter relações sexuais com o rapaz. Acabou por não acontecer, a criança, que sofria de epilepsia, estaria muito nervosa, chorava e tremia, relatou a mulher, que voltou a ser inquirida muito recentemente.

O homem terá preparado o encontro com três miúdos, para irem às prostitutas, durante dois dias. Mas só Rui Pedro compareceu. José Monteiro admite que o menino possa ter sofrido um ataque de epilepsia - "ou um incidente que possa ter fugido ao controle do Afonso".

Sobre o facto de terem sido necessários tantos anos para chegar a uma acusação, Monteiro lembra que só no final de 2006 assumiu a coordenação da investigação. "Nomeei uma equipa de dois inspectores, sob a chefia directa de um inspector-chefe, e pedi que pegassem naquele amontoado de papéis e separassem o que estava definitivamente afastado e o que precisava de ser aperfeiçoado." Várias pessoas foram reinquiridas depois disso. E a investigação foi dada por concluída em Janeiro. "Será que este desfecho satisfaz plenamente? É claro que não. Mas há uma parte que foi esclarecida e que é preciso levar à apreciação das entidades judiciárias."

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