A vibrante estreia operática de Vivaldi

Il Giardino Armonico, dirigido por Giovanni Antonini, sente-se como peixe na água na música de Vivaldi e associa-se nesta gravação a um elenco de luxo

Estreada em Vicenza a 17 de Maio de 1713, "Ottone in villa" foi a primeira ópera de Vivaldi, mas o compositor conhecia de perto o género e contava já no seu catálogo com várias obras vocais sacras e profanas. Sabe-se inclusive que em 1706 escreveu a maior parte da música de "Creso tosto alle fiamme", uma ópera estreada como sendo da autoria de Girolamo Polani, que terá pedido a ajuda do jovem veneziano.

Deste modo, não admira que a audição de "Ottone in villa" nos revele um compositor que domina o seu "métier" com desenvoltura e com um estilo próprio facilmente reconhecível. Traços da sua virtuosística música instrumental, dos seus ritmos vibrantes e exuberante colorido são reconhecíveis quer nas árias, quer no tratamento da orquestra. O libreto de Domenico Lalli, centrado na infidelidade amorosa e nas intrigas de corte, dá origem a uma obra plena de sensualidade, onde as influências da antiga tradição veneziana se cruzam com os modelos da Arcádia.

Como é habitual, Il Giardino Armonico, dirigido por Giovanni Antonini, sente-se como peixe na água na música de Vivaldi e associa-se nesta gravação a um elenco de luxo, constituído por Sonia Prina (Ottone), Julia Lezhneva (Caio Dilio), Veronica Cangemi (Cleonilla), Roberta Invernizzi (Tullia) e Topi Lehitipuu (Decio). Quase todos têm pergaminhos no repertório barroco, mas a poderosa voz de contralto de Sonia Prina (ouça-se por exemplo a ária "Frema pur") e a prestação da jovem soprano russa Julia Lezhneva merecem uma palavra especial.

Curiosamente esta última é a menos rodada no âmbito da ópera barroca, mas tem uma prestação cintilante, mostrando uma invejável agilidade e grande sensibilidade expressiva. A sua personagem é também presenteada com alguns dos momentos mais inspirados de Vivaldi como a estonteante ária "di bravura" "Gelosia" - que curiosamente apresenta material musical comum a uma das Sinfonias do compositor português (filho de italianos) Pedro António Avondano - e o belíssimo lamento "L'ombre, l'aura, e ancora il rio", acompanhado pelos violinos e flautas e pelos comentários em eco de Tullia.

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