ONU criou um painel intergovernamental para a Biodiversidade

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Os relatórios do IPBES darão conta do estado e tendências das espécies Enrique Marcarian/Reuters

A Assembleia-Geral das Nações Unidas deu ontem “luz verde” à criação de um IPCC (painel intergovernamental para as alterações climáticas) para a Biodiversidade, que permita maior eficácia na luta contra a extinção de espécies. Era o “sim” que faltava.

A tarefa de pôr o IPBES (painel intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas) no terreno, em 2011, ficará a cargo do Programa da ONU para o Ambiente (Pnua).

O novo organismo internacional deverá catalisar uma resposta global à perda de biodiversidade e dos ecossistemas do planeta, como as florestas e recifes de coral. Espera-se que o painel dê um novo fôlego ao Ano Internacional das Florestas e à década internacional da Biodiversidade, que começam em Janeiro de 2011.

Este painel independente vai, em grande medida, espelhar o IPCC, que tem promovido o conhecimento global sobre as alterações climáticas, fazendo a ponte entre os investigadores e as soluções no terreno.

Segundo o Pnua, o IPBES vai analisar e dar consistência aos estudos científicos de institutos de investigação espalhados pelo mundo e com eles elaborar relatórios para os Governos, com o estado, classificação e tendências de espécies e ecossistemas e ainda as respostas políticas necessárias.

“O IPBES representa um grande avanço em termos de organização de uma resposta global à perda de organismos vivos e de florestas, rios, recifes de coral e outros ecossistemas”, comentou Achim Steiner, director-executivo do Pnua, em comunicado.

Depois de dois anos de negociações com os países do Sul, liderados pelo Brasil, - que receavam um processo controlado pelo Norte e um potencial entrave ao seu desenvolvimento - o princípio da criação do IPBES foi aprovado em Junho na Coreia do Sul. Mas foi a adopção em Nagoya (Japão), em Outubro, de um acordo sobre a partilha dos benefícios de algumas indústrias biogenéticas com os países do Sul que permitiu levantar as últimas reticências, explicou Salvatore Arico, especialista em biodiversidade na Unesco, associada a este painel, à AFP.

Em Nagoya os Governos adoptaram ainda um novo plano estratégico com metas para travar a perda da biodiversidade até 2020. Por exemplo, os Governo aceitaram aumentar a superfície das áreas protegidas de 12,5 para 17 por cento da superfície da Terra e aumentar as áreas marinhas protegidas do actual um por cento aos dez por cento.

De acordo com a ONU, o actual ritmo de perda das espécies, causado pelas actividades humanas, é "mais de cem vezes superior ao da extinção natural". Hoje estão ameaçadas de extinção ao nível mundial uma em cada três espécies de anfíbios, mais de uma espécie de aves em cada oito, mais de um mamífero em cada cinco e mais de uma espécie de conífera em cada quatro.

“2010, o Ano Internacional da Biodiversidade, começou menos bem depois de se ter constatado que nenhum país atingiu a meta de reverter a perda de biodiversidade. Mas vai acabar de forma muito mais positiva, com uma nova determinação para responder aos desafios”, acrescentou Achim Steiner.

Salvatore Arico salientou que o IPBES "vai permitir aos cientistas de todo o mundo, de todas as áreas, fazer o ponto de situação sobre os nossos conhecimentos e responder às questões políticas prioritárias, fazendo a ligação entre a biodiversidade e desenvolvimento, a agenda económica e o comércio".

Para o próximo ano será organizada uma reunião plenária, nomeadamente para determinar de que forma vai ser gerido e funcionar este novo organismo.

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