Associação criou no Vale do Côa a primeira área protegida privada do país

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A área protegida situa-se num vale profundo do rio Côa Sérgio Azenha

A criação da primeira área protegida privada do país, Faia Brava, foi hoje reconhecida em Diário da República. Os seus 214 hectares, com habitats protegidos e muito raros num vale profundo do rio Côa, estão nas mãos da Associação Transumância e Natureza (ATN).

Esta é uma história que começou em Abril de 2009 quando a ATN pediu às autoridades de conservação da natureza a criação de uma área protegida privada, nos concelhos de Castelo Rodrigo e de Pinhel. Hoje, o despacho publicado em Diário da República justifica a “luz verde”, ao referir que este é um “contributo importante para a conservação dos valores naturais e da biodiversidade bem como para a valorização do património geológico e paisagístico”.

A área, integrada na Zona de Protecção Especial do Vale do Côa e no Parque Arqueológico do Vale do Côa, abrange valores naturais raros e com valor científico e ecológico que justifica a sua integração na Rede Nacional de Áreas Protegidas. Segundo o Plano de Gestão para a área (2009-2019), ocorrem 149 espécies de vertebrados, nomeadamente seis peixes – uma espécie ameaçada -, nove anfíbios, nove répteis, cem aves (onze das quais ameaçadas) e 25 mamíferos (três ameaçadas).

“Esta é a demonstração de que existem proprietários e gestores que entendem ser benéfico um estatuto de área protegida”, comentou ao PÚBLICO o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, o que leva a um “novo paradigma de envolvimento dos privados”. Para o governante, que conhece no terreno a Faia Brava, este "é um projecto bem conduzido que nos dá muita satisfação".

O Ministério do Ambiente considera que a criação destas áreas é uma mais valia e afirma estar “de portas abertas” a outras iniciativas de privados. Para o futuro, Humberto Rosa admite que se possa simplificar o processo de apreciação das propostas.

Entre os objectivos propostos pela ATN para a Faia Brava estão o aumento em 30 por cento da área de bosques autóctones, o aumento do sucesso reprodutor do abutre do Egipto e da águia de Bonelli em 20 por cento e aumentar o número médio de visitantes da área protegida, chegando às mil pessoas a partir do próximo ano.

Mas o projecto não está isento de problemas. Na lista das ameaças a esta região incluem-se as queimadas e incêndios, o abandono e redução da gestão do terreno, caça furtiva, pedreiras, construção de barragens ou diques e perturbação por actividades recreativas e turísticas.

A gestão da área protegida privada está nas mãos da ATN mas o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade terá de emitir pareceres quanto a determinadas actividades.

A ATN foi criada em 2000 no âmbito de um projecto de conservação do abutre do Egipto (Neophron percnopterus) e da águia de Bonelli (Aquila fasciata), na região Nordeste do país. A iniciativa levou a associação a adquirir várias propriedades que, com o tempo, se foram interligando e formam hoje uma área contínua de 526 hectares, 214 dos quais classificados como área protegida privada.

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