O Rei da Evasão

É um filme raro, pela extrema ternura que revela por personagens de pequena dimensão, por um trabalho miniatural de atenção ao pormenor, por uma espécie de secreto pudor com que trata questões complexas de secretas sexualidades.

Tudo aparece perante nós como nascesse de um sonho real, sem alardes, nem espectacularidades: na crise da mudança de idade um homossexual vulgar e desinteressante deixa-se seduzir por uma jovem adolescente e revela facetas até aí ignoradas. Pungente e irónico, o filme de Guiraudie possui um cariz poético que perturba e revela uma espantosa capacidade para dirigir actores. E, no entanto, esta delicadeza extrema provoca também alguma (pequena) reserva: não haverá uma certa dose de autocomplacência na construção do herói e das suas aventuras?

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