Manuel Pinho: foi importante ser ministro, mas agora estou a adorar viver em Nova Iorque

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Manuel Pinho admite estar a ser muito bem recebido nos Estados Unidos Foto: Luís Ramos/arquivo

O ex-ministro da Economia Manuel Pinho diz que o seu tempo na política foi importante, mas já passou, e agora está a “adorar” viver em Nova Iorque, mesmo estando obrigado a levantar-se às cinco da manhã.

“Foi importante ter sido ministro cinco anos, mas agora estou a adorar a minha vida em Nova Iorque”, declarou Manuel Pinho à agência Lusa, depois de ter assistido na primeira fila a um discurso do primeiro-ministro, José Sócrates, sobre energia, ontem ao fim da tarde, na Universidade de Columbia.

Nesta universidade, Manuel Pinho começou este mês a leccionar uma cadeira de mestrado na área das energias renováveis, tendo cerca de 80 alunos.

“Dou aulas quatro horas seguidas e, como já não sou nenhum menino, ao fim dessas quatro horas já me sinto um pouco cansado. Preparo as aulas com pormenor e levanto-me às 05h30 todas as manhãs para que a coisa corra bem”, acentuou, enquanto entrava num dos refeitórios da Universidade de Columbia, local onde aproveitou para virar a agulha da conversa, elogiando o clima de “informalidade a todos os níveis” entre alunos, professores e funcionários.

Já no seu pequeno gabinete, mas com uma magnífica vista de oitavo andar para a zona norte de Manhattan, Pinho elogiou então a qualidade dos vinhos que é possível encontrar em Nova Iorque por menos de 20 dólares, a frugalidade dos hábitos dos norte-americanos e a existência de um clima de igualdade de tratamento social entre todos, algo que disse contrastar com os países do sul da Europa.

“Foi bom ter sido ministro, mas, honestamente, gosto muito de estar em Nova Iorque. Os norte-americanos têm uma arte para receber os estrangeiros que têm qualquer coisa a dar. O carinho que aqui me dão ultrapassou todas as minhas expetativas”, disse, quando atravessava um dos jardins de Columbia e fumava mais um cigarro.

Manuel Pinho admite também estar a ser bem recebido nos Estados Unidos por, na sua opinião, não ter uma visão extremista sobre as questões económicas, em particular as da energia.

“A minha agenda para a energia é metade reduzir a dependência energética e metade preservar o clima. Não tenho uma agenda extremista, não tenho uma agenda contra os combustíveis fósseis, ou contra os ambientalistas. Tenho um discurso centrista”, afirmou.

Já sobre a forma como chegou ao lugar de professor na Universidade de Columbia, o ex-ministro de Sócrates diz que a história começou logo um mês depois de ter saído do Governo.

“Em Julho do ano passado, recebi três convites de universidades norte-americanas: duas da costa leste (entre elas a de Columbia) e uma da costa oeste. A 28 de Outubro do ano passado, dia dos meus anos, o reitor da Universidade de Columbia telefonou-me a convidar-me para vir para cá e fiquei muito contente”, referiu, antes de fazer uma alusão à transição da sua actividade de político para a de docente.

“Para alguém que esteve na política quase cinco anos, depois ter oportunidade de ensinar numa universidade como esta, ainda por cima transmitindo grande parte daquilo que são as minhas ideias sobre política de energia, penso isso é um privilégio”, declarou.

Pinho destacou também a adesão dos alunos norte-americanos à sua cadeira, mesmo sendo de opção em termos curriculares.

“Os alunos foram uma surpresa. Ainda há um mês, quando saí de Lisboa, pensava que ia ter mais ou menos dez alunos no mestrado. Mas o número de vagas limite foi rapidamente preenchido e acabámos por chegar aos 80 alunos”, disse.

Enquanto decorreu esta conversa, o ex-ministro da Economia marcou também pelo menos três jantares com portugueses, depois de animados diálogos sobre pintura e fotografia.

Mas esteve sempre com um pequeno problema a perturbá-lo: alguém tinha posto o seu telemóvel pessoal no silêncio e não encontrava forma de sair desta opção para pôr um toque bem audível no aparelho, numa altura em que já contabilizava seis chamadas não atendidas.

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