This Is Happening

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Ainda não foi desta que se espalhou. Ao terceiro álbum, James Murphy, ou seja a mente dos LCD Soundsystem, continua a divertir-se. O primeiro álbum poderia ter sido apenas um golpe de sorte de um melómano tardio, não especialmente dotado, mas capaz de apreender os sinais do tempo, insuflando-lhes vitalidade. Mas depois chegou o segundo, "Sound Of Silver", e era ainda mais estimulante.

Tudo indicava que o terceiro poderia ser o do falhanço. Mas não. "This Is Happening" é uma obra absolutamente fantástica. Claro, não irá gerar o mesmo entusiasmo. Não possui, evidentemente, o mesmo travo de novidade. E os anos, e o sucesso, fizeram nascer anticorpos à volta de James Murphy. Mas, numa análise o mais distanciada possível, é difícil não constatar que este é um conjunto de canções admiráveis - funcionando isoladamente ou enquanto conjunto -, possuídas por uma enorme vitalidade. Mais uma vez, Murphy troca-nos as voltas. Não procurando estímulos muito diferentes daqueles que já o haviam inspirado no passado recente - pop electrónica, rock alemão dos anos 70, funk, house ou disco -, mas procurando dentro de si próprio um novo alento, como se fosse o último. Sim, lá escutamos uma série de sons que nos soam familiares (Human League, Kraftwerk, Talking Heads, A.R. Kane), mas no caso dos LCD Soundsystem é como se tudo isso fosse acessório. A maior parte das canções é longa, progredindo por camadas. Por vezes parece que se vão perder num oceano de abstracção, mas logo de seguida surge um elemento vocal ou um desenvolvimento melódico que nos agarra, focando-nos, e a canção ganha eficácia e pragmatismo. O tema final, "Home", acaba por funcionar como súmula de tudo o resto - de toda a carreira dos LCD? -, com Murphy interpelando directamente o ouvinte, com aquela carga de profundidade e de descontracção que o caracteriza, enquanto a locomotiva de ritmo desliza, demorada, cósmica, movendo-se por diversas direcções até um lugar de prazer transbordante. A cada novo disco, é como se nos conseguissem fazer acreditar que foram ainda mais espontâneos do que no antecessor, e isso está ao alcance de poucos. Mais uma vez, há uma gestão imparável da máquina do ritmo, do compasso nervoso, do ritmo trepidante, dos sintetizadores galopantes, de uma voz que vive da intensidade e de letras irónicas, ou, como acontece muito com Murphy, auto-irónicas. Tudo como se fosse a primeira vez. Outra vez.

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