Paris Saint-Germain, o clube que não quer mais adeptos nas bancadas devido à violência entre as suas claques

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Adeptos do PSG em confronto com a polícia no Parque dos Príncipes Foto: Loic Venance

“Futebol não é violência”, canta o rapper brasileiro Gabriel O Pensador no “Rap das torcidas”. Mas a realidade não pára de o contrariar. A morte de um adepto do Paris Saint-Germain é o episódio mais recente de uma longa história de ódio entre claques do clube parisiense. Identificado apenas como Yann L., de 37 anos, foi espancado a 28 de Fevereiro. Esteve largas semanas em coma, até que os médicos, perdida a esperança, decidiram desligar o ventilador na segunda-feira. Desde sexta-feira que tinha sido declarada a morte cerebral.

As reacções seguiram-se em cadeia. O presidente da câmara municipal de Paris, Bertrand Delanoë, apelou à erradicação do hooliganismo. A secretária de Estado do Desporto, Rama Yade, afirmou que a sobrevivência do PSG está “em jogo” se o clube não tomar medidas “firmes” . A Federação francesa definiu a luta contra todas as formas de violência no futebol como “uma prioridade” e a Liga declarou-se “consternada pelo carácter insuportável desta morte absurda”.

Para já, o PSG vai disputar os próximos quatro jogos à porta fechada: um na Taça de França, em Auxerre, e três no campeonato, com Auxerre e Nice (fora) e em casa frente ao Boulogne. O presidente do clube, Robin Leproux, decidiu interromper a venda de bilhetes para os jogos fora de casa e suspendeu as ligações com associações de adeptos. “Vamos tomar medidas eficientes para afastar a violência, tanto nos jogos no Parque dos Príncipes como quando viajamos”, disse o dirigente, sem concretizar.

Yann L. pertencia à claque “Casual Firm”, uma franja extremista inserida na bancada Boulogne. A 28 de Fevereiro, dia de PSG-Olympique de Marselha (boicotado pelos adeptos marselheses), elementos deste grupo envolveram-se em distúrbios com adeptos da bancada Auteuil. Rivais históricos, mas do mesmo clube. Escrevia o “Le Monde” há poucos dias, que há Boulogne - a bancada histórica, de maioria branca, sem pudor em exibir uma simpatia pela extrema-direita - e no topo oposto do estádio há Auteuil, mais heterogénea, mais recente. Entre elas, um ódio. Referem-se uns aos outros como “nazis” e “escumalha”. “Por toda a França há rivalidades e conflitos entre grupos que apoiam o mesmo clube, mas não tomam esta dimensão”, vincou ao “Libération” o professor Nicolas Hourcade.

“Tudo começou em 1991, quando Auteuil foi construída com financiamento do ‘Canal+’, accionista à época do PSG, para relançar a dinâmica. Face a Auteuil, que representa uma juventude diversificada de cultura hip-hop, certas pessoas, em Boulogne, radicalizaram-se”, notou ao “Le Monde” Sébastien Louis, historiador e especialista em claques. A dissolução do grupo “Boulogne Boys”, em 2008, pela exibição de uma faixa incitadora ao ódio, foi “um grande erro”, acrescenta: “Permitiu a dispersão das pessoas, deixando campo aberto aos elementos mais radicais”.

O discurso destes é verdadeiramente tribal. “Nós somos os mais velhos. É necessário um mínimo de respeito. Auteuil quer a supremacia, mas nós não vamos deixar”, declarou um elemento de Boulogne ao “Le Monde”. “É o último bastião do fascismo em Paris. Boulogne exige menos bandeiras argelinas. Nós, menos braços estendidos”, respondeu um adepto de Auteuil ouvido pelo mesmo jornal.

O nome de Yann L. junta-se a uma lista negra: foi o segundo adepto a perder a vida junto ao Parque dos Príncipes em quatro anos, depois de Julien Quemener ter sido baleado pela polícia em 2006, à margem de um jogo da Taça UEFA.

Quatro adeptos do PSG foram detidos por, alegadamente, terem desempenhado um “papel activo” no espancamento de Yann L. “Infelizmente, há muito que dizíamos que um dia alguém iria morrer”, lamentou Philippe Pereira, porta-voz da bancada Boulogne.

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