Taizé: "Este modo de rezar não é uma seca. Nem piegas."

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A comunidade Taizé estará reunida até amanhã no Porto Paulo Pimenta

Estes cânticos, estes silêncios, estes curtos textos e meditações – este modo de rezar “não é uma seca, é mais bonito do que muitas missas normais”.

José Ramalho, 17 anos, estudante do 12.º ano na área de ciências e tecnologia, diz que a sua atracção pelo ritmo das orações de Taizé tem várias razões: “Estamos todos sentados no chão, não há barulho, as frases dos cânticos significam muita coisa”. José Ramalho veio num grupo de 30 jovens de Portalegre ao encontro de Taizé no Porto: desde sábado e até amanhã, terça-feira, oito membros da comunidade monástica de Taizé (França) animam um encontro onde participam seis mil pessoas - 3500 das quais vindas de fora da cidade e do estrangeiro. “É uma experiência espectacular.”

Diana Savickyte acaba de ser atirada ao ar, depois de ouvir cantar “parabéns a você”, em português e inglês. Completa hoje 25 anos. Vinda da Lituânia, com outros oito amigos, onde finaliza o curso universitário de ecologia e ambiente, diz que gosta do espírito de Taizé. “É fantástico! Encontramos pessoas de todo o mundo, sentimo-nos todos juntos a celebrar e unidos no mesmo espírito.”

E sobre esta forma de rezar? “Gosto muito, porque não é aborrecido, é simples, com frases com muito significado. Com elas expressamos a nossa fé. Muita gente pensa que é chato ter fé, mas com esta forma de rezar podemos participar.”

Como se reza? As igrejas esvaziam-se para se encher de gente. Hoje, na Baixa portuense, cinco igrejas acolheram os participantes. Na Trindade, o espaço foi curto. Durante uma hora, sucedem-se cânticos de frases curtas, que podem ser cantados em várias línguas. Há quem se concentre fechando os olhos, quem acompanhe as melodias através do caderno do encontro.

Helena Queirós, 37 anos, professora do ensino especial, está a acompanhar um grupo de mais de 50 jovens de Valongo. Em Taizé descobre um “espírito ecuménico, uma diversidade” que a entusiasmam. Gosta de rezar desta maneira: “Pelo facto de repetir uma frase, rapidamente toda a gente participa, mesmo em línguas diferentes; e pelo silêncio.”

Cânticos meditativos, uns, mais vibrantes, outros. As vozes enchem o espaço, acompanhadas pelas guitarras, flautas, violinos, trompetes… É um estilo de oração que “não tem nada de piegas, é alegre e é isso que atrai pessoas de todas as idades”. Voluntária no encontro, Helena esteve no acolhimento no sábado e a ajudar “no que é preciso, na distribuição do jantar, na recolha do lixo…”

Nesta forma de rezar está também presente a preocupação pelos mais pobres, pelos que sofrem. Domingo à noite, recordou-se o Haiti pela leitura de uma carta de um jovem que há dois anos esteve em Taizé. E o irmão Aloïs, actual prior da comunidade, recordava na mesma ocasião um grupo de freiras que conheceu em Novembro, em Xixuan (China), para onde foram depois do terramoto de 2008: “Não podemos falar da nossa fé, é duro; só podemos ser uma presença silenciosa. Mas estar próximo das pessoas é já viver o evangelho.”

Vários workshops do encontro foram dedicados também às questões sociais: experiências do microcrédito, economia de comunhão, justiça económica, combate à pobreza ou instituições como a Casa do Gaiato foram alguns dos temas que mobilizaram centenas de jovens.

Sérgio Aires, da Rede Europeia Anti-Pobreza, alerta para os preconceitos e o “fatalismo” que se mantêm acerca dos pobres e da pobreza. Defendendo a educação (“mas de que educação falamos?”) como necessária ao desenvolvimento, pergunta: “Acreditamos numa sociedade em que há uns que se safam e outros que não, ou queremos outra coisa?”

O Haiti, Deus e o mal

Perante uma tragédia como a do recente terramoto no Haiti, onde ver Deus? No livro Um Amor a Descobrir, hoje publicado pelas edições Paulinas, o irmão Emmanuel, de Taizé, escreve: “Deus não criou o mal e também não o permitiu.”

Esta tarde, o irmão Aloïs dizia na sua mensagem aos jovens: “Podemos estar sempre alegres? Temos o direito de estar sempre alegres quando há tanto sofrimento no mundo, por vezes tão perto de nós? E lembrava a importância de “escolher a simplicidade” como forma de vida. Isso é já “viver a solidariedade e a partilha com os outros”. A alegria interior é capaz de irradiar bondade, acrescentou.

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