É o encontro de duas personagens importantes da cultura rock'n'roll lisboeta: Tó Trips, guitarrista dos Dead Combo, com obra em nome próprio (o belo "Guitarra 66", lançado este ano) e passado rock nos Lulu Blind e Santa Maria Gasolina em Teu Ventre!, e Tiago Gomes, poeta, letrista e editor da revista "Bíblia". Uniram-se para celebrar "On The Road" ("Pela Estrada Fora"), o livro fundamental da geração "beat", escrito por Jack Kerouac, e uma influência que perdura para muitos dos espíritos livres que o rock ainda gera.

A 1 de Dezembro de 2007, para assinalar 50 anos passados sobre a edição do livro, Tó Trips foi convidado a tocar numa exposição no número 211 da Avenida da Liberdade, em Lisboa, que tem sido utilizado por artistas de várias áreas como espaço de criação. Enquanto Trips tocava guitarra, projectava-se um vídeo de Raquel Castro e Tiago Gomes lia passagens do livro. O espectáculo improvisado correu tão bem que os três quiseram continuar.

O projecto, entretanto, deu um disco, "Vi-os desaparecer na noite", editado este ano pela Optimus Discos. Gravado no mesmo espaço, respira liberdade - estranho seria se assim não fosse, quando é de "Pela Estrada Fora" que parte. A guitarra, a lembrar os territórios que Trips pisa nos Dead Combo, mas mais suja e livre, é a base sobre a qual Tiago Gomes debita as histórias de bebedeiras, vagabundagem e boa má vida.

Em disco, os temas, que transpiram a liberdade das histórias de Kerouac, são ainda agraciados por sopros, violoncelo e percussão, que conferem um tom "jazzístico" à música. Ao vivo, como se verá terça-feira, no Teatro Municipal da Guarda, a música é mais despida, com Tó Trips na guitarra e na percussão mínima, e Tiago Gomes nas leituras. Esperem viagens, guiadas por Kerouac, mas também, citando o texto de apresentação de "Vi-os desaparecer na noite", "muitas estradas, textos, sons, imagens cruzadas de outros viajantes: Lou Reed, Tom Waits, Marc Ribot, Jim Jarmusch, William Burroughs, um cabeleireiro de Aveiro, um fazedor de sandes de carne assada com taças de vinho verde no Porto, um 'barman' dos Açores, um baterista furioso em Coimbra, 'picnics' à beira da estrada, directas a conduzir, América perdida, América sonhada, Portugal profundo, ilhas, prego a fundo." Assim seja.