Morreu o "ayatollah" Montazeri, crítico do regime iraniano

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Montazeri denunciou "a morte de pessoas inocentes" na sua última declaração pública Morteza Nikoubazl/Reuters

Montazeri deverá ser sepultado no mausoléu de Masoumeh, irmã do imã Reza, o oitavo imã do islão xiita, venerado pelos xiitas, adiantou a AFP. Após o anúncio da sua morte, os estudantes juntaram-se na Universidade de Teerão para recitar versículos do Corão, adiantou o "site" Rahesabz.

Próximo de Khomeini, de quem foi aluno, Montazeri foi um dos teóricos da Revolução Islâmica de 1979 e um dos promotores da constituição da República Islâmica. Impôs-se como uma das principais figuras da revolução e foi designado pelo fundador do regime como seu sucessor, em 1985. Mas, defensor de uma corrente mais liberal e progressista, acabou por ser afastado na sequência das suas críticas contra o endurecimento do regime face aos opositores.

Foi afastado do poder em 1989 , pelo próprio "ayatollah" Khomeini, pouco antes da morte do fundador da República Islâmica. Passou cerca de 15 anos em quase reclusão, sob observação das autoridades e com os seus contactos com o exterior limitados. Manteve, no entanto, a sua influência junto da ala mais liberal do regime.

Em 2003 foi levantada a prisão domiciliária a que estava sujeito e então ganhou uma maior liberdade de expressão, nomeadamente para criticar as políticas de Mahmoud Ahmadinejad e do Supremo Líder Ali Khamenei. Em Junho contestou a reeleição do Presidente, ao referir que “ninguém pode acreditar” que o escrutínio tenha sido honesto, e denunciou a repressão sobre as manifestações que se seguiram.

A sua última posição pública foi tomada a 16 de Dezembro, quando denunciou no seu "site" na Internet “a morte de pessoas inocentes” e “a detenção de militantes políticos que pediam a liberdade”. Disse então que “se as autoridades continuarem assim, é claro que o povo se vai distanciar do regime e que a crise actual se vai agravar”.

A agência oficial iraniana IRNA divulgou hoje uma pequena biografia em que o apresenta como “uma figura religiosa activa junto dos desordeiros”, como são referidos os manifestantes que protestaram contra a reeleição de Ahmadinejad, e criticou as “declarações sem fundamento aos media contra-revolucionários”. O seu funeral deverá agora voltar a juntar os opositores ao regime.

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