Ambientalistas reagem ao acordo não vinculativo I

Foto
Pawel Kopczynski/Reuters
Quercus

“Apesar da Cimeira estar agora oficialmente terminada, o Acordo de Copenhaga foi apenas ‘registado’ ou ‘tomado nota’ e não ‘adoptado’ pelos órgãos da Cimeira e suscita ainda dúvidas sobre o seu valor e enquadramento. Para tal necessitaria do consenso do plenário, com o voto favorável de todos os países, o que não aconteceu. Assim, o acordo, para além de representar um fracasso, na opinião da Quercus, é um documento ainda mais fragilizado. Aliás, nem o símbolo da Convenção das Nações Unidas deverá vir estar presente no texto final que, mesmo depois de terminada a Cimeira, ainda recebe algumas correcções".

"Este acordo é uma falsa partida e não é claro que tenha o apoio dos todos os líderes mundiais. Apesar do que os líderes políticos estão a dizer neste momento, este desenvolvimento não torna o trabalho quase feito: está longe de ser justo e vinculativo. Este acordo tem muitas lacunas reconhecidas aliás publicamente no momento do seu anúncio".

"Os líderes falharam em conseguir um verdadeiro acordo como prometido. Ignoraram a ciência e guiaram-se por interesses nacionais. Estamos perante um atraso com muitos custos, que podem ser medidos em vidas humanas e em dinheiro perdido. O continuar do Protocolo de Quioto para além de 2012 está ameaçado".

"O financiamento acordado representa menos que os subsídios dos países às indústrias de combustíveis fósseis. Os objectivos para reduzir a poluição mantêm-nos no caminho que a ciência diz levar a um aumento catastrófico de temperatura".

"Na melhor das hipóteses, estamos agora confrontados com um atraso mortal que significa uma tragédia desnecessária para milhões de famílias. Os impactos vão fazer-se sentir em todos os países e mais drasticamente nas populações mais pobres dos países em desenvolvimento".

"Os líderes mundiais precisam de repensar este acordo. Tal como está, irá desmoronar-se assim que analisado com mais atenção. É preciso os líderes mundiais reunirem-se novamente antes de Junho para resolverem os assuntos que ficaram pendentes agora.

Numa análise mais detalhada de alguns culpados, a Quercus identifica:

- os Estados Unidos da América (que não querem assumir por agora metas de emissões ambiciosas e vinculativas);

- a China (que se recusou a ver acompanhado internacionalmente o seu esforço de redução de emissões);

- o Canadá (por trazer uma posição muito fraca para Copenhaga e sem intenção de a melhorar, recebendo o prémio “fóssil do ano” atribuído pelas ONGs, e até;

- o Brasil (que teve um Presidente a fazer ontem um discurso com um conteúdo brilhante, mas que pretende uma abertura a projectos inadequados no mecanismo de desenvolvimento limpo e que participou activamente com os Estados Unidos na elaboração do famigerado acordo).

O Presidente da Conferência (primeiro-ministro dinamarquês Rasmussen) foi também um contributo para um final confuso e algo infeliz (na última parte já sem ele a conduzir os trabalhos)".

"Na opinião da Quercus, é fundamental que a União Europeia se comprometa unilateralmente com uma redução de 20 para 40% das suas emissões de gases com efeito de estufa entre 1990 e 2020 (30% de esforço interno), dado que os a recessão económica e financeira reduziram significativamente os custos das medidas associadas".

"A União Europeia deveria desde já ter assegurado a continuação do Protocolo de Quioto para um segundo período pós-2012 e foi demasiado passiva em termos negociais, apesar de reconhecermos a sua liderança. A União Europeia deve confirmar que o processo negocial deve seguir de modo firme o caminho da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que sem dúvida saiu fragilizado de toda esta negocial surreal e deprimente. Deve também clarificar que a contribuição financeira aos países em desenvolvimento acordada em Copenhaga é adicional".

"Portugal tem também desafios pela frente e deve tomar medidas internas mais coerentes, na área do ordenamento do território, promovendo os transportes colectivos, na área da conservação de energia e eficiência energética, a par das energias renováveis mais sustentáveis, preparando-se para uma verdadeira revolução energética ao longo da próxima década, também aqui citada em Copenhaga pelo Primeiro-Ministro e que a Quercus tem reivindicado".

Partido Os Verdes

“‘Os Verdes’ consideram que a conferência de Copenhaga resultou num rotundo fracasso.

Nem se chegou a um acordo vinculativo mas nem tão pouco se traçaram metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa, nem se definiu um prazo para que um futuro acordo venha a estar definitivamente estabelecido.

O PEV relembra que o período de cumprimento de Quioto está a chegar ao fim [termina em 2012] e, depois disso, há um vazio absoluto na definição de metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa.

‘Os Verdes’ atribuem a responsabilidade deste fracasso aos chefes de Estado e de Governo, com particular responsabilidade para os EUA, que arrastaram as negociações até ao último minuto e que, definitivamente, demonstraram que desde a cimeira de Bali (em 2007) até à conferência de Copenhaga, não mais pensaram nem agiram para o sucesso das negociações. De resto, Obama, havia afirmado, antes da conferência de Copenhaga, que julgava ser muito difícil chegar a um acordo vinculativo.

Como se prova, é caso para dizer, em jeito de uma ironia de revolta, que a conferência de Copenhaga, quase mais não serviu do que para elevar, neste período, a emissão de gases com efeito de estufa com as inúmeras e numerosas delegações que lá se deslocaram... para nada!

Tudo fica agora adiado para 2010. Esperemos que os Chefes de Estado e de Governo entendam que até lá têm um trabalho contínuo a fazer, de modo a que em 2010 não assistamos a um novo fracasso... porque o Planeta precisa de soluções e estamos na eminência de uma crise climática que urge ser resolvida".que a nação tem que ter, a todo o custo, uma hegemonia económica no mundo. E, portanto, reduzir as emissões é algo que prejudica a economia. O Presidente Obama está consciente do perigo mas também não pode avançar muito, sob perigo de que aquilo que ele disser depois não é ratificado pelo Senado.

Mas também há sinais positivos a reter desta cimeira, nomeadamente o empenho da China em reduzir as emissões de CO2 entre 40 a 45 por cento. Penso que a razão está no facto de a China estar já a começar a sentir os efeitos e os impactos das alterações climáticas, sobretudo no norte, com maior frequência de secas, e no sul, com maior frequência de chuvas e inundações. Mas a China também vê que tem aí uma oportunidade excepcional de desenvolver as energias renováveis e mesmo, porventura, tornar-se líder nesse mercado.

Em Portugal, o aspecto mais preocupante das alterações climáticas é a tendência para a diminuição da precipitação que será sobretudo notória no sul do país. Na verdade a seca já está a afectar algumas regiões portuguesas, sobretudo a margem esquerda do Guadiana”.

Sugerir correcção
Comentar