A luminosa "Criação" de Haydn

Foto
O grande barítono alemão Dietrich Henschel no encerramento do Ano Haydn do CCB

Para além dos quartetos e das sinfonias, "A Criação" é a obra que mais contribuiu para o reconhecimento do génio de Joseph Haydn (1732-2009). Esta extraordinária viagem musical entre o caos e a ordem, evocadora da criação do mundo, será dirigida pelo maestro Theodor Guschlbauer no próximo domingo, às 17h, no Centro Cultural de Belém. São intérpretes a Orquestra Metropolitana de Lisboa, o Coro Sinfónico Lisboa Cantat e um conjunto de solistas de prestígio internacional que inclui a soprano Marlis Peterson, o tenor Thomas Walker e o grande barítono alemão Dietrich Henschel. Conceituado intérprete no campo da oratória para além da ópera e do Lied, Henschel gravou "A Criação", sob a direcção de William Christie, e tem sido dirigido por maestros tão importantes como Harnoncourt, Gardiner, Herreweghe, Jacobs ou Kent Nagano. Trata-se de um simbólico encerramento para o Ano Haydn, mas o CCB terá ainda outros eventos dedicados ao compositor. No dia 23, a Orquestra de Câmara Portuguesa apresenta o segundo concerto da série "Caderno de Viagens", dedicado a Londres, cujo programa inclui a Sinfonia nº 104, de Haydn, e até dia 30 poderá ainda ser vista a exposição "Haydn on Tour" na galeria Mário Cesariny.

Inspirada na Bíblia ("Génesis") e no "Paraíso Perdido", de Milton, "A Criação" constitui uma feliz união entre a tradição da oratória handeliana, a missa vienense e o estilo sinfónico de Haydn, servindo de veículo a uma música de transbordante imaginação, que faz viver as ricas imagens do texto. Depois de uma primeira audição privada, no palácio do príncipe Schwarzenberg em 1798, foi estreada no Burgtheater de Viena em Março de 1799 com um êxito estrondoso. O público esgotou a sala e a receita ultrapassou os 4000 florins, uma quantia jamais alcançada por um teatro vienense. Em 1808 foi reposta em Viena, sob a direcção de Salieri, numa gala destinada a celebrar o 76º aniversário de Haydn. O compositor chegou na carruagem do príncipe Esterházy e foi recebido por uma multidão, no meio da qual se encontravam Beethoven e Hummel. As ousadias harmonicas da "Representação do Caos" na Abertura da obra não têm paralelo na música do século XVIII e apenas seriam retomadas pelo Romantismo tardio. Na poderosa passagem "E fez-se luz", que marca o final do caos com um luminoso acorde de Dó Maior em fortíssimo, a sala veio abaixo com palmas.

Sugerir correcção
Comentar