Uns Belos Rapazes

É uma primeira obra, a estreia de Riad Sattouf (n. 1978), autor francês de BD. O universo adolescente, ao que podemos saber, é um dos temas preferidos dos seus livros, e foi o tema que escolheu abordar no seu primeiro filme. Os "belos rapazes" (na verdade, incrivelmente feios e borbulhentos, a adolescência em todo o seu hiper-realístico esplendor) são uma dupla de alunos de liceu obcecados com a sua própria libido, que é inversamente proporcional aos seus talentos de sociabilização. Todas as mulheres (as colegas, as mães delas, as professoras) são potenciais objectos de fantasia, mas esse mundo mental dificilmente coincide com o mundo real. Esta difícil coincidência alimenta "Uns Belos Rapazes", que filma a adolescência masculina como um território monotemático, onde toda a imaginação conduz sempre ao mesmo, mas onde o "mesmo" raramente passa da imaginação. Sattouf acompanha esta "selvajaria" das suas personagens com uma certa elegância (e com uma certa empatia, talvez até com alguma nostalgia), matizando-lhes o recorte estereotipado (que é obviamente fundamental) com algumas subtis notações psicológicas (por exemplo toda a relação entre um dos rapazes e a mãe, interpretada por Noémie Lvovsky).


Se o ambiente é "realista", e quer o liceu quer o círculo em que as personagens se movem são perfeitamente plausíveis, a sua importância é limada, como se a psique adolescente fosse uma coisa que se impõe a tudo. Como é evidente, ficamos próximos do "cartoon" (até na maneira como Sattouf compõe as cenas e nalguns casos até os planos), no sentido em que, porventura demasiadas vezes, persegue apenas o efeito grotesco (a insistência nas borbulhas, nos aparelhos dentários, etc). Mas, e é aquilo que Sattouf consegue melhor, o filme salva-se do "cartoonismo" inconsequente (não importa quão divertido) pela maneira como integra a voracidade desamparada das suas personagens numa espécie de "visão do mundo", e transformar-se no seu retrato.

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