Protestos nas universidades alastraram ao centro de Teerão

Foto
Manifestantes concentraram-se em vários pontos da cidade Reuters (Via Your View)

Os jornalistas que trabalham para os media internacionais foram proibidos de sair dos escritórios até amanhã e a imprensa oficial apenas noticiou que “desordeiros” entraram em confrontos com a polícia.

Mas, mesmo com as redes de telemóvel cortadas e vários serviços de Internet bloqueados, a oposição conseguiu fazer chegar relatos dispersos dos acontecimentos: “Vi pelo menos dez pessoas serem detidas e levadas para mini-autocarros”, contou à Reuters uma testemunha na praça Vali-Asr; “as forças de segurança dispararam para o ar para dispersar os manifestantes na praça Enghelab”, disse outra ao site reformista Mowjcamp; “os milicianos estão a bater em homens e mulheres, alguns deles ficaram feridos e a sangrar”, contou outra pessoa vinda de Haft-e Tir.

As três praças ficam no centro de Teerão, junto às principais universidades, epicentro dos protestos, no dia em que o regime recorda a morte de três estudantes mortos pelo regime do Xá Pahlavi, em 1953. E se na última década a ocasião foi aproveitada para protestos estudantis, o dia de hoje serviu de pretexto para a oposição contornar a férrea repressão que vigora desde as eleições de Junho, que reconduziram Ahmadinejad.

“Morte ao ditador”

Durante a manhã, polícias antimotim e milicianos rodearam a Universidade de Teerão e montaram barreiras para evitar a entrada no campus de apoiantes de Mir-Hossein Mousavi, o principal opositor de Ahmadinejad. A vedação foi também tapada com lençóis brancos para que ninguém pudesse ver o que ali se passava.

Milhares de estudantes, muitos com máscaras e lenços verdes (a cor da campanha de Mousavi) juntaram-se no campus, gritando “Morte ao Ditador”. Testemunhas deram também conta de palavras de ordem contra o Supremo Líder, o ayatollah Ali Khamenei – algo que o correspondente da BBC, Jon Leyne, diz ser pouco habitual e indiciar que os estudantes estão a pôr em causa o próprio regime. Vindos para as celebrações oficiais, estudantes bassijis (membros da milícia leal ao regime) responderam “Morte aos hipócritas”, mas apenas se registaram escaramuças.

Os incidentes mais graves ocorreram quando estudantes e outros opositores levaram os protestos para as ruas de Teerão. A polícia usou granadas de gás lacrimogéneo, bastões e tasers (armas de electrochoques) para dispersar as manifestações, que só acalmaram ao fim do dia.

As restrições à imprensa impedem saber ao certo quantas pessoas estiveram nos protestos que, segundo a AP, terão tido uma participação superior aos de 4 de Novembro, por ocasião do 30º aniversário da tomada da embaixada dos EUA. Mas, ao contrário de Junho, a vida na capital não sofreu grandes perturbações e apenas as lojas junto às universidades estiveram encerradas.

As manifestações representam, ainda assim, uma vitória para a capacidade de mobilização da oposição, mesmo quando alguns dos seus principais dirigentes estão na prisão e outros, como Mousavi, sob apertada vigilância.

Hoje, deputados conservadores pediram à oposição para “acabar com a teimosia política e evitar ser o alvo da cólera revolucionária”. Mas o candidato reformista Mehdi Karroubi – retomando palavras ditas na véspera por Mousavi – prometeu a continuação dos protestos, sublinhando que “não estão reunidas as condições para uma reconciliação nacional”. As autoridades, disse em entrevista ao Le Monde, “têm de trabalhar para restaurar a confiança do povo”.

E os reformistas obtiveram um apoio inesperado quando o grande ayatollah Nasser Makarem Shirazi, próximo dos conservadores, pediu ao Governo que aceite negociar com a oposição para “acalmar o clima político”. Mousavi e Karroubi “representam entre 13 a 14 milhões de iranianos”, sublinhou , avisando que alienar esta parte da população faz perigar a República Islâmica.

Sugerir correcção
Comentar