Apagões já deixaram às escuras vários milhões de pessoas

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São Paulo e Rio de Janeiro ficaram às escuras na noite de ontem Paulo Whitaker/Reuters

Escuridão. Casas sem luz, praças e ruas sem iluminação, centenas ou milhões de pessoas sem acesso a electricidade durante várias horas. Este pode ser o resultado de um "apagão", quer seja provocado por um curto-circuito, uma falha no sistema de uma estação eléctrica ou uma cegonha.

As consequências podem ser apenas a nível local mas também podem envolver vários países. O Brasil e o Paraguai registaram na noite passada um dos últimos grandes "apagões", depois de uma falha energética ter deixado dezenas de milhões de pessoas sem luz.

O Brasil já tem um historial de casos de escuridão total. Os dois casos mais graves ocorreram em 1985 e 1999, quando cortes de energia deixaram milhões de pessoas sem electricidade durante várias horas. Em 1985, nove estados brasileiros ficaram sem energia eléctrica durante mais de três horas. Catorze anos depois, perto de 76 milhões de pessoas ficavam cerca de quatro horas sem electricidade em dez estados do país. Estima-se que um terço da capacidade de produção eléctrica do Brasil esteve inactiva.

Na altura, o Governo brasileiro indicou que na origem do corte esteve a queda de um raio numa torre de distribuição da Companhia Energética de São Paulo. Entre 2001 e 2002, o executivo brasileiro decidiu mesmo restringir o consumo de energia eléctrica para conseguir uma redução em 20 por cento. Mas, em 2002, São Paulo e o Rio de Janeiro voltavam a ficar às escuras, em pleno calor de Verão, novamente devido a um problema numa central eléctrica.

Em 2005 e 2007, repetiram-se os "apagões". O programa "60 Minutos", da estação de televisão norte-americana CBS, avançou numa reportagem emitida há dois dias que alguns dos "apagões" ocorridos no passado no Brasil terão sido provocados por "hackers". Informações secretas citadas pela CBS indicam que os brasileiros já foram vítimas de dois ataques aos sistemas de controlo do abastecimento eléctrico feito por "hackers" em 2005 e em 2007.

O ministro brasileiro da Energia já veio negar que na origem do "apagão" da noite passada tenha estado qualquer ataque informático. Edison Lobão sublinhou que não está ainda identificada a causa exacta da falha, admitindo que esta possa ter sido causada por "problemas atmosféricos" que afectaram a rede de distribuição da barragem de Itaipu. Aquela que é a segunda maior central hidroeléctrica do mundo fornece 20 por cento da energia consumida no Brasil e mais de 90 por cento no Paraguai.

O "apagão" da cegonha

Portugal tem também uma lista de casos de "apagões", mas o mais conhecido foi "o apagão da cegonha". A 9 de Maio de 2000, uma cegonha embateu contra linhas de alta tensão na zona de Lavos, Figueira da Foz. O incidente provocou um curto-circuito que deixou sem luz grande parte do Sul do país. Mas o episódio não terá sido registado pelo sistema automático da EDP e durante duas horas milhares de portugueses ficaram às escuras.

O caso chegou a ter repercussões políticas, com o Governo a ordenar a abertura de um inquérito para apurar responsabilidades junto da EDP.

Na Europa, a 4 de Novembro de 2006, perto de 15 milhões de pessoas, em França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Espanha, ficaram em plena escuridão durante duas horas. Após meses de investigações, ficou concluído que na origem do "apagão" esteve uma decisão do operador de distribuição alemão E.ON. A empresa decidiu desligar uma linha de alta tensão no Norte da Alemanha para permitir a passagem de um navio num canal, o que provocou uma sobrecarga energética nas redes de abastecimento dos países vizinhos e o défice de potência noutras.

No outro lado do Atlântico, o maior "blackout" de sempre foi registado em 2003, quando perto de 50 milhões de pessoas de oito estados dos Estado Unidos e do Canadá ficaram sem luz. O problema terá começado no Ohio, no nordeste dos Estados Unidos, perto da fronteira com o Canadá, quando três linhas de transmissão de electricidade falharam e o erro não foi detectado pelo sistema automático. A não comunicação do erro terá ocorrido devido a uma falha telefónica utilizada pelas empresas de electricidade na América do Norte, que impediu que os vários operadores registassem e reportassem o caso.

Este não seria, porém, o "blackout" mais grave nos Estados Unidos. Em Agosto de 1977, um corte energético deixou Nova Iorque às escuras, suscitando uma série de casos de violência e pilhagens na cidade.

A capital russa também teve um teste à capacidade de resposta em caso de "apagões", quando, em Maio de 2005, várias avarias no Sistema Energético Unificado da Rússia suspenderam o abastecimento eléctrico e pararam os transportes em Moscovo, obrigando milhares de pessoas a fazer os seus percursos a pé. Metro, comboios, telefones, telemóveis e semáforos deixaram de funcionar na cidade, registando-se problemas semelhantes em várias outras cidades próximas da capital. Na altura, o porta-voz do Sistema Energético Unificado disse ter-se tratado de "uma calamidade técnica", causada por um curto-circuito e incêndio numa estação eléctrica.

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