Portugal duplica atletas federados mas está longe do topo europeu

Foto
O número de atletas femininas está a crescer, mas ainda só representa 23 por cento Reuters (arquivo)

Em 1996, pouco mais de 260 mil portugueses estavam inscritos em federações desportivas. Doze anos depois, o número quase duplicou e atinge agora os 492 mil. Este é um dos dados mais significativos das estatísticas que o Instituto do Desporto de Portugal (IDP) apresentará hoje de manhã no Jamor e a que o PÚBLICO teve acesso.

Esta quase duplicação, que significa que actualmente 4,63 por cento dos portugueses praticam formalmente desporto, é a boa notícia. A má é que Portugal continua longe do topo da Europa. Um relatório elaborado para a Presidência francesa da União Europeia (UE) no final do ano passado, a cuja versão preliminar o PÚBLICO também teve acesso, demonstra que apenas cinco dos 25 países europeus analisados tinham taxas de praticantes inferiores à portuguesa em 2005: Lituânia (2,7 por cento), Hungria (2,2), Bulgária (1,1), Roménia (1) e Polónia (0,3).

Nesse estudo, os países são distribuídos por grupos e Portugal é integrado no segundo, o dos países com taxas baixas mas em bom crescimento, como é também o caso da Estónia (8,2 por cento), Bulgária e Lituânia.

O primeiro grupo é o dos países com taxas elevadas de praticantes e estabilidade nos números, como a Dinamarca (55 por cento), Áustria (40,3), Alemanha (33), Holanda (28,5), Suécia (26,6), Luxemburgo (25,8), França (25,2) e República Checa (24,4). Refira-se, por outro lado, que países como a Itália (6,4) e a Espanha (7,3) estão ligeiramente melhores do que Portugal.

Ouvido pelo PÚBLICO, Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, reconhece que há "um grande potencial de crescimento" em Portugal, sublinhando a importância de captar as crianças e jovens. "O problema de Portugal é a falta de hábitos desportivos da população. E esses hábitos criam-se nas primeiras idades", defende Laurentino Dias, argumentando que esse problema se resolve com medidas como a introdução da prática desportiva nas escolas, como aconteceu "no "primeiro ciclo do ensino básico, em que 333 mil crianças tiveram actividade física desportiva".

O governante espera que Portugal venha a colher, a "médio e longo prazo", frutos de medidas como esta, de forma a poder aproximar-se do topo da Europa.

Laurentino Dias, por outro lado, defende que há uma "recuperação face à média europeia", graças ao crescimento da última década, e apresenta algumas explicações. "A primeira razão é que, em 12 anos, aumentou muito o número de instalações desportivas disponíveis. Em quatro anos, abrimos 545.000 m2 de área desportiva e fez-se muito mais ao longo desses últimos 12. A segunda razão é que há um conjunto de novas modalidades, como surf, triatlo, orientação, canoagem e remo, que cresceram muito e há 12 anos quase não tinham expressão."

O estudo que será hoje apresentado demonstra ainda que a prática desportiva está ainda muito concentrada no género masculino. Dos 491.564 atletas federados em 2008, 77 por cento eram homens e apenas 23 mulheres. O número de atletas femininas, no entanto, tem crescido mais depressa. Em 1996, as mulheres representavam apenas 15 por cento dos praticantes.

Futebol domina

Outro ponto relevante nas estatísticas recolhidas pelo IDP é o facto de haver uma quebra da percentagem de praticantes nas idades de juniores (17, 18 anos), o que é explicado por Laurentino Dias como uma consequência do facto de os clubes "diminuírem o número de equipas nos juniores e seniores".

Todos estes dados vão ser editados em livro em Setembro, incluindo também as estatísticas dos praticantes por modalidades. Os dados provisórios de 2008 - relativos a todas as federações com utilidade pública desportiva, incluindo instituições que habitualmente não são associadas a desporto de alta competição, como a federação de campismo e montanhismo ou a federação de columbofilia - mostram que o futebol lidera de forma destacada. É a única modalidade que supera os 100 mil praticantes, com 141.958 atletas inscritos (incluindo o futsal). A segunda maior é o voleibol e a terceira o campismo e montanhismo, federação que junta actividades campistas com desportos como alpinismo e escalada.

A quantidade, no entanto, não é sinónimo de qualidade. Várias das modalidades em que Portugal tem assegurado o apuramento olímpico estão fora do top-20, como é o caso dos trampolins (3679 atletas federados), ténis de mesa (3142), taekwondo (3074), vela (2887), canoagem (2223), remo (1633), badminton (1301), triatlo (972), esgrima (670) e tiro com arco (294).

Notícia actualizada às 23h54
Sugerir correcção
Comentar