Este filme não tem nada de especial

<b>O cinema de Laurence Ferreira Barbosa perdeu força e ainda não a reencontrou</b>

Laurence Ferreira Barbosa nunca mais conseguiu repetir o sucesso de estima do filme que primeiro fez notar o seu nome, "As Pessoas Normais Não têm Nada de Especial", estreado no princípio dos anos 90. Os seus filmes seguintes, "Detesto o Amor" (1997) e "A Vida Moderna" (2000), sem serem necessariamente piores, não obtiveram o mesmo reconhecimento crítico e impacto público. "Ordo", de 2004, passou mesmo numa quase completa indiferença (um pouco injusta, era um filme frágil mas que arriscava alguma coisa).


Vê-se "Ou Morro ou Fico Melhor" e torna-se inescapável a sensação de que o cinema de Laurence Ferreira Barbosa perdeu força e ainda não a reencontrou. É daqueles filmes de que apetece dizer que não têm nada de especialmente errado mas também não têm nada de especialmente certo. Laurence instala-se num registo que quase todos os cineastas franceses tratam por tu (um naturalismo justo e algo áspero, aqui em tendência vagamente "borderline") mas depois, e independentemente das peripécias do argumento, revela-se incapaz de um rasgo que subverta a aplicação, competente e rotineira, desse modelo. Tem personagens e situações em que se pode acreditar imediatamente - uma mãe (Florence Thomassin) e um filho adolescente (François Civil) que se mudam para uma terreola na província francesa e têm de aprender a lidar com as respectivas solidões e inaptidões. E na verdade continua-se sempre a acreditar neles, mesmo quando o miúdo encontra, e se deixa cativar por elas, um par de gémeas mulatas adeptas de brincadeiras algo perversas, que o vão levando para um "outro lado" qualquer onde é indistinta (mas fundamental) a fronteira entre o que tem a ganhar e o que tem a perder (ou se "morre" ou se "fica melhor").

A transgressão como via para a salvação, é um pouco a moral da história. Pena que o filme, por seu lado, transgrida pouco, e se contente com o relato, liso e "normal", da sua história. Vê-se sem desagrado, vê-se sem entusiasmo.

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