Novo Museu Hergé procura tirar Georges Remi da sombra de Tintim

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O museu está localizado nos arredores de Bruxelas DR

O Museu Hergé, que abre ao público na terça-feira, visa dar a conhecer as "múltiplas facetas" do artista belga, mas ao longo das diversas salas de exposição Georges Remi tem sempre a "concorrência" da sua mais notável criação, Tintim.

Responsáveis pela concepção e gestão do novo museu, localizado nos arredores de Bruxelas, explicaram à Lusa que a ideia do museu é dar a conhecer a vida e obra de Hergé, tentando mostrar às pessoas os diversos trabalhos e criações do artista.

No entanto, os mesmos "hergeólogos" admitem que Tintim é e será sempre a grande "atracção", porque é também "a maior criação" de Hergé, e garantem que os visitantes que se deslocarem a Louvain-la-Neuve para ver o famoso personagem de banda desenhada também não ficarão desiludidos, porque Tintim está "omnipresente" no museu dedicado ao homem que o criou.

A ideia deste novo museu - há muito "reclamado" pelos amantes das "histórias aos quadradinhos" - é mostrar o génio de Hergé, para além das "Aventuras de Tintim".

"É por isso que se chama Museu Hergé e não Museu Tintim", aponta Charles Dierick, um dos grandes conhecedores da obra de Georges Remi e responsável por uma das salas de exposição do Museu.

Museu Hergé ou Museu Tintim

"Muita gente pergunta: 'porquê Museu Hergé e não Museu Tintim? Toda a gente conhece Tintim...'. Mas acontece que Hergé fez muitas outras coisas, na banda desenhada e fora dela, além de Tintim. Se ele produziu BD como o fez foi também porque teve outras ocupações e mestrias que adquiriu ao fazer o trabalho de ilustração, de publicitário, de grafismo...", observou o antigo director do Centro Belga de Banda Desenhada.

Desse modo, explicou à Lusa o director do Museu, Laurent de Froberville, o museu foi pensado de forma a que os visitantes tenham "uma ideia de quem era o homem, qual era sua forma de vida, quais eram as suas paixões" e conheçam também outros trabalhos e criações de Georges Remi.

"Conhecemos Tintim, mas não conhecemos Quike, Flupke, Jo, Zette e Jocko, todas as outras personagens que ele criou, e algumas delas também muito cativantes", apontou, acrescentando que "há tantas as coisas a dizer sobre Hergé que se poderia duplicar a superfície deste museu".

Um dos especialistas de Hergé que mais pode dizer sobre a vida e obra de Georges Remi é Philippe Goddin, autor de uma biografia do artista ("Hergé - Lignes de Vie"), que "pensou" e ajudou a criar o museu.

Goddin sublinhou também a preocupação em permitir aos visitantes "descobrir a diversidade" do artista, apontando que para tal se procurou "que todos os aspectos da criação e da personalidade de Hergé estejam ilustrados, de uma maneira ou de outra".

"Aqueles que vierem aqui pelo Tintim serão bem servidos, porque o Tintim está evidentemente presente no conjunto do museu. Aqueles que ficarem surpreendidos por Hergé ser autor de outras séries vão também poder descobri-las", resumiu o antigo secretário-geral da outrora Fundação Hergé (agora "Estúdios Hergé") entre 1989 e 1999.

Uma das "descobertas" ao dispor dos visitantes será a forma como o cinema influenciou a obra de Hergé que, segundo Laurent de Froberville, "realizava as aventuras de Tintim, como se realiza um filme, com um cenário de partida, uma 'mise en scéne', um ritmo que era extraordinário, onde há momentos de tensão, de suspense e momentos mais calmos".

A influência do cinema sobre Hergé é o mote para uma das oito salas temáticas do Museu, pensada por Charles Dierrick, que aguarda agora a resposta do público a um espaço que "tinha de existir" e acaba de nascer.

"O Museu deve evoluir, viver e ganhar o seu espaço, por um lado, num quadro dos museus de banda desenhada, por outro lado, num quadro internacional de museus consagrados à arte contemporânea", afirmou.

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