Arriba La Cumbia!

O corpo só se pode queixar mesmo do castigo resultante desta ressurreição da cumbia à beira do absoluto frenesim

Nascida da interacção dos índios, dos escravos africanos e dos colonizadores espanhóis, a cumbia é uma música de fusão tipicamente latina. Começou por se distinguir pelos ritmos de dança de pés aguilhotinados, melodias em flautas de milho e versos de métrica ocidental. Essa combinação passou por sucessivas mutações até alcançar a idade de ouro nas décadas de 50 e 60, quando a cumbia assimilou o som das orquestras de swing norte-americanas e de ska jamaicas. Um som incendiário e vertiginoso, mas que acabou por ser obscurecido pelo triunfo planetário de concorrentes caribenhos, como a salsa e o merengue. Até que a música das Caraíbas e arredores entrou na idade digital e o som colombiano veio a ser repescado à mistura com o hip hop, a house, o dancehall e o ragga.

Estas novas fusões terceiro-mundistas originaram, por seu turno, desenvolvimentos na cena londrina de dança global, outra vaga de declinações assinada por projectos como Basement Jaxx, Mo'Horizons e Up, Bustle & Out. Um clube que também integra Russ Jones, DJ responsável pela excelente série de compilações "Future World Funk". É ele quem organiza a presente colecção, que rebobina um par de clássicos de orquestra, mas privilegia naturalmente a vaga de factura electrónica. O esquadrão londrino alterna assim com produtores caribenhos com destaque para as remisturas de Toy Selectah, o mexicano na origem do presente surto. Ele e outros expoentes da nu cumbia debitam uma avalanche de projécteis altamente inflamáveis para as pistas de dança, um vale tudo de poucos escrúpulos, que a facção britânica vai compensando com mais engenho e outra fantasia. Sejam os ouvidos mais ou menos sensíveis, no entanto, o corpo só se pode queixar mesmo do castigo resultante desta ressurreição da cumbia à beira do absoluto frenesim.

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