Antony, cada vez mais universal

Depois do êxito, Antony volta elegante e solene, com canções para voz, piano e arranjos orquestrais.

Depois da aclamação com "I Am A Bird Now" (2005), Antony podia permitir-se fazer o que lhe apetecesse. Poderia ter feito um disco só com duetos - tal a profusão de cumplicidades que acumulou nos últimos anos - ou até fazer um álbum só com versões, porque já provou nos concertos que, mesmo quando as canções lhe são alheias (Leonard Cohen, Nico, Beyoncé), a singularidade interpretativa permite-lhe apropriar-se delas sem dificuldade.

Não escolheu o caminho mais difícil, que seria fazer um disco totalmente diferente do anterior. E o EP "Another World", editado em Novembro, até poderia indiciar isso. Ficou-se pelo meio caminho, fazer um disco semelhante e distinto dos anteriores. E fê-lo bem. "The Crying Light" é mais grave, interiorizado e solene que o seu antecessor e conta com uma enorme mais-valia - os magníficos arranjos de Nico Muhly, que introduzem uma candura muito clássica na música de Antony que não se lhe reconhecia.

As canções respeitam, quase sempre, um formato reconhecível (voz, piano, orquestra) e a música ganhou em elegância e justeza, mas o centro é, inevitavelmente, a sua voz, vibrante e magnetizante, reveladora de grande expressividade emocional. Alguns ouvirão "Dust and water", "One dove" ou "Everglade" e sentirão desespero na sua voz. Ele diz que é apenas fé. É isso e muito mais, mistura de pesar e alento, numa música inclusiva e universal.

Sugerir correcção
Comentar