A colecção do BES

Um número considerável de trabalhos que utilizam a fotografia como "medium" da colecção do BES

Depois das encomendas mostradas em Lisboa, nomeadamente a da série de imagens assinadas por Candida Höfer que ocuparam em tempos este mesmo espaço, chega a vez de o Banco Espírito Santo mostrar parte da sua colecção de fotografia através de uma grande exposição comissariada por María de Corral e Lorena Martinez de Corral.

"O Presente: Uma Dimensão Infinita" reúne um número considerável de trabalhos que utilizam a fotografia como "medium", todos pertencentes àquela colecção, e que se agrupam por diversas secções - umas de filiação clássica, como as "naturezas", os "retratos" ou as "arquitecturas", outras mais consonantes com a contemporaneidade, como os "universos privados", as "narrações, ficções e realidades" ou a "sociedade e vida urbana". Estas secções, que dão o nome a outras tantas salas da exposição, ajudam o visitante a orientar-se através do que lhe é apresentado: uma multiplicidade de imagens, estilos e nomes de artistas, sem distinção entre aqueles que se exprimem através da fotografia unicamente, e os que a usam pontualmente, mudando de suporte consoante as exigências internas da obra. Numa primeira interpretação, a exposição revela-se assim sobretudo uma abordagem sociológica de alguns dos modos através dos quais é possível hoje considerar a fotografia.

As comissárias assinam um texto introdutório com algumas afirmações surpreendentes, como a de que "na arte contemporânea, a fotografia (...) é mais um processo do que um meio" - pobres daqueles, em consequência, que a encaram como um meio - ou que "até aos anos 80 do século XX a fotografia praticamente não era aceite como arte" - o que elimina de uma só pernada Man Ray ou Fernando Lemos, para citar apenas dois fotógrafos que unanimemente e desde muito antes dos anos 80 receberam a caução da arte. Mas adiante. As imagens devem falar por si próprias, e é delas que nos devemos ocupar.

O título é suficientemente ambíguo para permitir uma série de interpretações; e para incluir em todas elas a atenção ao presente, como é normal numa colecção que se começou a construir há 4 anos.

Para além desta, pode-se ainda citar a opção, na constituição da colecção BESart, por "obras emblemáticas" em detrimento da aquisição de grandes séries: opta-se assim pela inclusão do maior número de nomes possível, incluindo aqueles que são presença obrigatória em qualquer antologia fotográfica dos últimos 30 anos (Thomas Ruff, o casal Bescher) ou outros que se servem, ou não, da fotografia para trabalhar um dado conceito.

Tracey Moffat ou Barbara Kruger são exemplos desta última afirmação. Obviamente, esta profusão de artistas acaba por se reflectir nesta primeira exposição.

Por isso, o grande mérito desta exposição é o de apresentar um conjunto vastíssimo de nomes ligados à contemporaneidade, que trabalham ou trabalharam com a fotografia, sem distinções geracionais ou de grau de caução pelo mercado da arte, e onde os portugueses surgem a par e passo com os seus colegas de outros países.

Com uma montagem convencional, que começa com Helena Almeida e segue com a inqualificável secção de retratos de Vik Muniz para terminar com as "arquitecturas" de Höfer, conduz-nos por um percurso labiríntico onde Nozzolino, Gérard Castello-Lopes, José Manuel Rodrigues, Molder, Filipa César, Vasco Araújo e muitos outros convivem com desenvoltura com Nan Goldin, Cindy Sherman, William Doherty, Andreas Gursky, Serrano, Hiroshi Sugimoto Craigie Horsfiel, Isaac Julien, ou Tacita Dean, para só destacar alguns nomes entre as dezenas de autores aqui presentes.

Deve-se ainda salientar que o catálogo é um óptimo documento de trabalho, incluindo imagens de toda a colecção reunida até à actualidade.

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