Manoel de Oliveira “emocionado” com homenagens no dia em que faz 100 anos

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O chefe de Estado sábado irá condecorar o cineasta com a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique Daniel Rocha (arquivo)

O primeiro-ministro saudou o realizador Manoel de Oliveira, que hoje comemora 100 anos, sublinhando em nome do Governo o "orgulho" de "todos os portugueses" pelo "extraordinário" contributo da sua obra. Também o Presidente da República quis homenagear aquele que considera “um dos maiores cineastas do século XX” – palavras que deixaram o centenário “sensibilizado e emocionado”.

"Quero em meu nome pessoal e do Governo Português felicitá-lo calorosamente neste dia do seu aniversário - que, aliás, todo o país comemora com reconhecimento e admiração", refere o primeiro-ministro, José Sócrates, no telegrama que enviou ao realizador.

Por seu lado, o Presidente da República, Cavaco Silva, também teceu elogios a Manoel de Oliveira no seu centésimo aniversário. "Felicito vivamente Manoel de Oliveira pelo seu aniversário. Mas quero também felicitá-lo pelo seu notável percurso cinematográfico", refere o chefe de Estado numa mensagem gravada hoje e que foi colocada no site da Presidência da República.

"Manuel de Oliveira é internacionalmente reconhecido há muito tempo. Penso que é um dos maiores cineastas do século XX. Ele ajudou a projectar Portugal no Mundo, a dar a conhecer melhor a nossa cultura, a nossa história, as nossas gentes", assinala o Presidente da República. Na mensagem, Cavaco Silva destaca ainda a forma como Manoel de Oliveira celebra o seu centésimo aniversário, com "a cabeça cheia de projectos", considerando-o um "homem único".

O chefe de Estado sábado irá condecorar o cineasta com a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique. "Estou convencido que todos me acompanham nesta homenagem que é prestada a um grande homem do cinema português e da cultura portuguesa", afirma ainda Cavaco Silva na mensagem.

Novo filme rodado em Lisboa

Também o presidente da câmara de Lisboa, António Costa, considerou um privilégio poder ter Manoel de Oliveira a celebrar os cem anos e a rodar o novo filme na capital. "É uma grande honra para Lisboa poder patrocinar um filme que o Manoel de Oliveira faz filmado na cidade de Lisboa e ainda por cima nesta data dos cem anos. É um privilégio para a cidade", disse o autarca, recordando que o apoio financeiro de 200 mil euros concedido ao realizador foi aprovado por unanimidade pela autarquia.

António Costa foi um dos convidados do almoço de aniversário de Manoel de Oliveira, hoje no local de rodagem do novo filme, e ofereceu ao realizador uma primeira edição de uma colectânea de contos de Eça de Queirós, que inclui aquele que dá o mote a "Singularidades de uma rapariga loura".

Também no almoço esteve o embaixador de França em Portugal, Denis Delbourg, que sublinhou a "admiração constante" que o público francês tem pela obra de Manoel de Oliveira, um realizador que faz parte da "cinematografia mundial". A actriz Leonor Silveira, que trabalha há vinte anos com o cineasta foi outra das convidadas do encontro.

A anterior ministra da Cultura de José Sócrates, Isabel Pires de Lima, aproveitou o centenário para reiterar que "é urgente dar um destino à Casa do Cinema Manoel de Oliveira", concluído há oito anos, no Porto, e que continua desocupada. "O edifício foi construído pela Câmara do Porto para alojar o espólio de Manoel de Oliveira. O que seria bonito, e vantajoso para todos, é que nesta altura em que celebramos os cem anos do cineasta, fosse firmado um acordo que consagrasse essa função", sustentou.

“Caprichos da natureza”

Manoel de Oliveira manifestou-se emocionado com todos os que o homenagearam e agradeceu ao presidente da Câmara de Lisboa por estar a filmar em Lisboa com o apoio da autarquia. "Estou muito sensibilizado e emocionado. Não sei se mereço isto. Suponho que não, até porque não é mérito próprio chegar à idade que cheguei. São caprichos da natureza, mas é agradável", disse entre risos, momentos antes do almoço.

Terminado este filme, Manoel de Oliveira manifestou vontade de rodar "O estranho caso de Angélica", recuperando um projecto dos anos 1950, que o realizador gostaria de estrear em Maio de 2009 no festival de Cannes, em França.

Manuel Cândido Pinto de Oliveira nasceu a 11 de Dezembro de 1908, no Porto, mas apenas foi registado no dia seguinte. Filho de Cândida Pinto e Francisco de Oliveira, o primeiro fabricante de lâmpadas em Portugal, teve dois irmãos, Francisco e Casimiro, e dois meios-irmãos, estudou no Colégio Universal, no Porto, e num colégio de jesuítas perto de La Guardia, Galiza.

Em 1929, Manoel de Oliveira começou a rodar o primeiro filme, "Douro, faina fluvial", com uma câmara oferecida pelo pai e com a ajuda do amigo e fotógrafo António Mendes. Além de diversos prémios e distinções cinematográficas, no plano oficial, Manoel de Oliveira recebeu em 1982 a Comenda da Ordem de Mérito da República Italiana e, no ano seguinte, foi condecorado Comendador da Ordem de Artes e Letras de França. Em 1989, recebeu a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique pelo então Presidente da República Mário Soares e em 1997 foi distinguido como Grande Oficial de Mérito Nacional pela República e do Governo Francês.

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