Documentos inéditos escritos pelo cosmonauta russo Iuri Gagarin vão ser leiloados

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Gagarin foi o primeiro homem a viajar no espaço DR

“O céu é completamente negro. As estrelas têm um aspecto mais brilhante e claro sob o fundo negro deste céu. A Terra tem uma aura muito característica, de uma lindíssima cor azul”. A descrição foi feita a 15 de Abril de 1961 pelo primeiro cosmonauta da história, o russo Iuri Gagarin. É uma das muitas que podem ser lidas nas cartas, informações de voo e diários manuscritos que vão a leilão pela Sotheby’s, em Dezembro. Os preços, segundo se prevê, podem atingir valores no mínimo...astronómicos.

O texto é escrito à máquina e contém a descrição visual de Gagarin sobre o que vê na sua viagem pioneira ao espaço. É a peça mais importante do leilão da Sotheby’s que acontecerá a 11 de Dezembro, em Nova Iorque, segundo noticia hoje o jornal “El Mundo”. É o único de quatro exemplares do documento que existem sem ser nos arquivos russos. Tem um valor estimado entre os 300 e os 700 mil dólares. O texto foi escrito a 15 de Abril de 1961, dois dias depois de Yuri Gagarin completar com êxito o voo orbital de 108 minutos ao redor da Terra a bordo da nave Vostok-1. O feito permitiu à ex-URSS adiantar-se na conquista espacial aos EUA.

No texto, apresentado pela sucursal russa da Sotheby’s, Gagarin descreve em primeira mão a vista privilegiada: “Esta aura vê-se muito bem quando se observa o horizonte, a transição suave entre o azul e o azul-escuro, ao violeta para o negro completo do céu. É uma transição muito bonita.”

Os documentos russos estão na posse de um empresário e ex-candidato presidencial norte-americano, Ross Perot, que as adquiriu num leilão da Sotheby’s há quinze anos. Para evitar que saiam da Rússia, milionários russos podem participar no leilão para reaverem o património russo, o que irá fazer, provavelmente, com que os preços subam consideravelmente. O valor de base da carta escrita a máquina é de 700 mil dólares.

“A entrada na sombra da Terra é muito rápida. De repente chega a escuridão e não se vê nada. Na superfície da Terra nesse momento não consegui ver nada, nada era visível, assim que passava por cima do oceano e estava sob as grandes cidades, neste caso provavelmente seriam visíveis as luzes”, descreve Gagarin no texto citado pelo “El Mundo”, onde diz sentir-se “magnificamente” depois do voo cósmico que acabara de realizar.

”Abrir caminho no universo”

Datada de 10 de Abril de 1961, dois dias antes de se lançar no espaço, o manuscrito do discurso proferido por Gagarin antes da viagem terá um valor inicial entre os 200 e os 300 mil dólares. Gagarin confessa-se seguro do êxito da sua missão. O discurso tem uma carga mais política e ideológica do que científica. Com entusiasmo arranca o discurso: “Camarada presidente, camaradas membros da comissão. Agradeço-lhes de coração a confiança depositada em mim para ser o primeiro a voar ao universo!”. Acrescenta que se sente “contente, orgulhoso e feliz como qualquer soviético se sentiria se a pátria lhe confiasse uma tarefa semelhante e sem precedentes pelo seu significado histórico”.


O cosmonauta sentia-se confiante na sua perícia, mas acima de tudo, na tecnologia soviética. “Permitam-me assegurar ao governo soviético, ao nosso partido comunista e ao povo soviético que é muito honrado que cumpro esta tarefa de abrir caminho no universo. E se me deparar com dificuldades irei superá-las como as superam os comunistas”, declara Gagarin.

Filho de camponeses Gagarin, cuja cidade natal foi rebaptizada com o seu nome depois de morrer em 1968, foi escolhido por Serguei Koroliov (o responsável pelo programa espacial russo), em 1960, entre um grupo de pilotos para ser o primeiro cosmonauta a viajar no espaço. Quase meio século depois as suas palavras são únicas pelo testemunho histórico em primeira mão do que observou e da experiência pioneira que viveu, pelo que não será de estranhar os valores cósmicos e fora de órbita que podem vir a atingir.

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