Control

Filme sobre Ian Curtis e os Joy Division? Sim, se não confundirmos isso com o "biopic pop" tradicional (seja o que for o "biopic pop" tradicional). Não se espera num filme desses o tipo de austeridade de "Control", o preto e branco muito seco, o silêncio da banda sonora, a profunda estilização da presença dos actores (as cenas de conjunto com os membros da banda são admiráveis na sua teatralidade) - e tudo isto concorre para uma atmosfera de ilusório, ou liminarmente falso, naturalismo, contornado sem que se entre na sua oposta exuberância (malabarismos nenhuns: Corbijn, realizador de telediscos, faz em "Control" um antiteledisco).

Mas a verdade é que é fácil esquecermo-nos de que este rapaz é Ian Curtis (como com o Cobain de van Sant, gostávamos de experimentar a pele do espectador totalmente virgem de "cultura pop"). Sabemos que as bases documentais de Corbijn foram fortes (até nos pormenores: nem falta a "última ceia" com Iggy Pop e Werner Herzog), mas o seu trabalho consiste na invenção de uma personagem. E essa personagem, um miúdo disposto a sacrificar-se no altar da sua vulnerabilidade emocional, é singularmente comovente. Não nos peçam para explicar melhor.

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