Câmara de Cascais recusou ouvir protesto de moradores dos bairros das Marianas e Fim do Mundo

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Os moradores receiam que as demolições iniciadas nas Mariana decorram de forma "desumana" Enric Vives-Rubio/PÚBLICO (arquivo)

O presidente da Câmara de Cascais, António Capucho, recusou hoje receber um grupo de moradores dos bairros das Marianas e Fim do Mundo, que protestava contra a demolição de barracas, por considerar a manifestação "ilegal" e baseada em "mentiras".

O protesto, uma marcha entre São João do Estoril e Cascais, foi organizado pelas comissões de moradores de ambos os bairros e pela Associação Solidariedade Imigrante (ASI), que reivindicam o direito à habitação para todos os munícipes e pretendem impedir que as demolições no bairro do Fim do Mundo, iniciadas em 2002, continuem a decorrer de forma "desumana", como acreditam ter acontecido nas Marianas.

De acordo com números da ASI, entre 50 a 60 pessoas estiveram presentes no protesto de hoje, uma adesão reduzida pela autarquia para perto de 30 manifestantes.

Segundo Teresa Costa, da ASI, vários moradores ausentes por estarem no trabalho chegaram a ser surpreendidos, nas últimas semanas, por avisos colados nas portas com uma semana de antecedência e uma habitação acabou por ser derrubada por "falha administrativa", aumentando "sem justificação" o número de pessoas sem casa.

O presidente da Câmara de Cascais, António Capucho, afirma, no entanto, desconhecer os casos e garante que os processos de realojamento estão a decorrer com normalidade e de acordo com as regras camarárias.

Depois de ter hoje recusado receber o grupo de manifestantes, o autarca explicou que o protesto só foi anunciado à câmara no final da tarde de ontem e através de um comunicado com referência a várias "mentiras". "Sempre que se quiserem manifestar em Cascais podem fazê-lo, mas não com ilegalidades. Esta manifestação foi convocada com base em meia dúzia de 'slogans', sem nenhuma situação ter sido posta em concreto, e motivada por um grupo político que me parece estar a instrumentalizar a ASI para os seus fins", justificou à Lusa António Capucho.

"Todas as famílias são realojadas antes da demolição da casa, estejam ou não inscritas no PER [Plano Especial de Realojamento]. Se há situações diferentes, de pessoas isoladas, não conheço, mas não vou passá-las à frente da minha lista normal, onde há casos em condições extremamente precárias", garantiu, adiantando que, nos próximos dois anos, o executivo irá realojar não só 20 famílias do Fim do Mundo inscritas no PER, como também os 55 agregados que não constam do mesmo plano.

Apesar de os manifestantes não terem sido recebidos pelo líder da autarquia e de terem sido remetidos para o gabinete de atendimento ao cidadão, Teresa Costa garantiu que os grupos irão agora pensar em acções de protesto futuras para lutar contra uma política camarária que consideram "intransigente". "O presidente continua com uma postura autoritária, finge que os problemas não existem. Já nos disseram que nos iriam responder formalmente, mas se não tivéssemos vindo cá manifestar-nos, não nos teriam dado qualquer resposta", afirmou a responsável.

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