Finalmente, Dave Matthews Band

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A sala lisboeta encheu para ver a Matthews Band DR

"Tenho pena que tenhamos demorado tanto tempo a vir cá. Muito obrigado por terem esperado!" Foi assim que Dave Matthews começou por agradecer a longa espera dos milhares de fãs que encheram ontem à noite o Pavilhão Atlântico. Num concerto com "finalmente!" escrito por todo o lado, líder e banda suaram para deixar o momento bem marcado na memória de todos, colmatando a ausência com mais de três horas de concerto – dois encores incluídos – sempre no topo da criatividade, força e génio que vêm colados ao seu nome. Se há esperas que valem a pena, esta foi uma delas.

O violino com wah-wah, de Boyd Tinsley, em "Everyday" foi o começo auspicioso de uma noite pejada de ritmo e de grandes emoções. "Que recepção!", comentou Matthews antes de "Dreaming", seguida do "Obrigado" que nunca é demais (com pronúncia melhorada ao longo do concerto, tantas foram as vezes que agradeceu). Comunicativo, bem disposto, modesto, com sentido de humor apurado. Foi este o Dave Matthews que Portugal encontrou pela primeira vez. Não era só ele que repetia "obrigado". Os fãs iam dizendo a mesma palavra baixinho. Ou agradeciam o momento com aquilo por que o público português é conhecido: uma entrega incondicional.

Em noite de estreia, a opção mais óbvia podia ter sido tocar o maior número de canções com a maior abrangência discográfica possível. Como o "óbvio" não faz parte do vocabulário da Dave Matthews Band, a escolha foi outra: pegar nos temas e construir pontes, a partir deles, para o excercício de uma inventividade sem par.

As várias "jams" que se introduziram por entre as canções poderiam ser, noutra banda, causa de bocejo. Na Dave Matthews Band, porém, esse jogo musical é um momento de revelação do quanto a banda é decisiva no resultado, do quanto os músicos estão entrosados após anos e anos de convívio, do quanto é importante saber manter o puro gozo de tocar. Isto, mais do que meramente agradável, é contagiante. É como se Dave Matthews e os seus abrissem as portas para um mundo só deles. Ou como se recebessem estes (novos) amigos na sua casa musical.

Naturalmente excelente

As músicas estendem-se "ad infinitum" sem se tornarem cansativas, porque vão desaguando constantemente em novas formas, outros ritmos, instrumentos diversos e, no limite, diferentes estados de espírito. Assim se construiu um concerto que alternou, como os álbuns, entre momentos de subtileza ("Gravedigger"), de paixão ("The idea of you"), de profunda sensibilidade ("Sister"), de puro gozo ("Stay") ou de pulmões abertos para toda a sala – o mundo – ouvir ("When the world ends").

Há muito pouco de "virtuosismo pelo virtuosismo", apesar de ser obrigatório tirar o chapéu a todo e cada um dos elementos da banda, com um destaque muito especial para as fantásticas manobras do baterista Carter Beauford (sem dúvida o pilar de sustentação deste palácio). Até Tom Morello – o mítico e mui inventivo guitarrista dos Rage Against The Machine, hoje nos Audioslave e em carreira a solo sob o nome The Nightwatchman (projecto que apresentou na primeira parte do concerto) – consegue manter-se discreto quando se junta à banda. É um virtuoso? É. Mas, aqui, é com naturalidade e partilhando o holofote que se deixa cair num invejável solo de guitarra.

Tudo é naturalmente excelente, sem uma única nota negativa ao longo de mais de três horas de música. Não é fácil dar concertos tão longos. Menos fácil ainda é fazê-lo sem cansar o público. Longe disso – a sala, repleta, queria ainda mais. Faltaria sempre uma música, dada a vastidão do espólio do grupo norte-americano. E convém que sobre alguma coisa para a prometida próxima vez. Antes de finalizar o primeiro encore – ainda viria um segundo para "Don't drink the water" e "Rapunzel"” – Dave Matthews mostrou ter sido também ele conquistado: "Tenho que vos dizer que vocês são o público mais vivo que jamais vimos". E deixou a promessa: "Vocês são inacreditáveis. Não vamos demorar tanto tempo a voltar".

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