Sindicato de pescadores quer mais meios para salvamentos marítimos

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O naufrágio do barco de pesca "Luz do Sameiro" ocorreu na sexta-feira a norte da Nazaré Mário Caldeira/Lusa

O Sindicato dos Trabalhadores da Pesca da Zona Sul considerou hoje existirem poucos meios em Portugal para socorrer a acidentes no mar, defendendo a distribuição na orla costeira nacional de aeronaves adequadas a salvamentos marítimos.

"O problema é a falta de meios em terra para socorrer casos como o da Nazaré. Não se admite que, para situações destas, tenha de ir um helicóptero do Montijo, que demorou quase duas horas a chegar ao local do naufrágio", afirmou o sindicalista Carlos Espadinha.

Em declarações à Lusa, o representante do sindicato, também pescador em Sines, comentava o naufrágio do barco de pesca "Luz do Sameiro", ocorrido na sexta-feira passada a norte da Nazaré e que provocou três mortos e três desaparecidos, tendo apenas sido resgatado com vida um tripulante.

"Devia existir uma base aérea ou um heliporto mais próximos da Nazaré, devidamente preparados e equipados com meios aéreos para acorrer a estes acidentes", disse igualmente aquele sindicalista.

Projecto-lei apresentado em 1982

Carlos Espadinha referiu que, em 1982, quando integrava o Grupo Parlamentar do PCP, aquele partido político apresentou um projecto-lei na Assembleia da República acerca desta matéria.

"Fui o primeiro subscritor dessa proposta sobre segurança no mar, que preconizava a existência de quatro heliportos no país, em várias zonas, equipados para acorrer a este tipo de situações, como reivindicam agora os pescadores do Norte", acrescentou Carlos Espadinha.

Contudo, o projecto "foi chumbado" pelo Governo da altura, "também de maioria PS", por ter sido considerado que "era algo que ficaria muito caro", explicou o representante do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca da Zona Sul.

"Já lá vão 24 anos e o certo é que continua a morrer gente assim", sublinhou ainda Carlos Espadinha.

Instituto de Socorros a Náufragos e bombeiros "deviam estar melhor equipados"

Na opinião daquele dirigente sindical, além dos meios aéreos, também o Instituto de Socorros a Náufragos e os bombeiros "deviam estar melhor equipados" para responder a acidentes do género.

No caso concreto de Sines, Carlos Espadinha limitou-se a considerar que "os meios de segurança existentes podiam ser mais adequados à época que vivemos".

Contactado pela Lusa, Guilherme Marques Ferreira, capitão do porto de Sines e comandante da Polícia Marítima, afirmou-se confiante nos "meios técnicos e no pessoal treinado" de que dispõe.

"Saberíamos lidar com profissionalismo com uma situação destas", disse Guilherme Marques Ferreira, quando questionado sobre a eventualidade de um naufrágio na área daquela capitania, que possui, no total, 27 elementos e nove embarcações, duas delas em permanência em Vila Nova de Milfontes (Odemira).

Marques Ferreira comparou o acidente ocorrido na Nazaré com o do arrastão "Sinamar", verificado em 2004 na Praia do Tonel, na Zambujeira do Mar, do qual resultaram um morto e oito feridos.

"Pescadores criam condições impossíveis de controlar"

"Os pescadores criam condições impossíveis de controlar, nem com um helicóptero a cem metros", sustentou aquele responsável, lembrando que, tal como o "Sinamar", a "Luz do Sameiro" estava "numa zona de rebentação, fora da área permitida por lei", e os náufragos "não usavam coletes de salvação no momento do acidente".

Já a Associação de Armadores do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, com mais de uma centena de embarcações de pesca em actividade desde Sines à Azenha do Mar (Odemira), referiu à Lusa a falta de formação de grande parte dos pescadores para "lidar com alguns equipamentos de segurança".

"Desde o bote mais pequeno até à maior embarcação, todas as nossas associadas possuem as condições a bordo exigidas por lei. Mas, por vezes, o que falta é a formação, onde há ainda muitas lacunas", afirmou Filipa Faria, secretária-geral daquela associação.

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