Arctic Monkeys: o "hype" confirma-se

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Não houve encore no concerto dos Arctic Monkeys DR

A imprensa inglesa está cheia de nomes como o dos Arctic Monkeys, estrelas recém-chegadas ao firmamento pop que mal têm tempo para respirar antes de serem apontadas como a "next big thing". Ao vivo, muitas vezes, o entusiasmo dá lugar à desilusão. Não é o caso desta banda de Sheffield. Ontem, no Paradise Garage, chegaram, tocaram e venceram.

Bem vistas as coisas, o caso dos Arctic Monkeys não é propriamente comparável a nenhum outro "hype" surgido no Reino Unido. Antes de a banda saltar para as primeiras páginas, já havia quem não passasse sem o CD no leitor. Seria, provavelmente, um CD adquirido num dos concertos da banda. Ou compilado depois de uma busca pela Internet.

Foi aí, no palco (e através de um passa-palavra), que os Arctic Monkeys conquistaram os adeptos que iriam fazer do álbum de estreia, "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not", o disco que mais vendeu em menos tempo (100 mil unidades foram vendidas no dia em que foi posto à venda; no final dessa semana, os números chegavam às 360 mil cópias). Isto para dizer que não admira, portanto, que o concerto de ontem tenha sido conquistador.

O público, polvilhado por muitos ingleses, esgotou a sala e, no meio de um ambiente tão quente e suado como a música do quarteto, encheu a atmosfera com as letras cantadas palavra por palavra.Ou seja: o "hype" já andava a palpitar por cá. Faltava o concerto que, ao contrário do que costuma acontecer, chegou exactamente na altura certa.

Directo, explosivo, curto

O "timing" certo, o público certo, o palco certo também. Condições mais que perfeitas para um bom concerto de rock. Não há nada propriamente novo neste rock. Se os Arctic Monkeys tivessem de pagar direitos de autor por cada "riff" e trejeito que lembrasse outra banda, teriam de acrescentar uns trocos às carteiras dos Oasis, dos Strokes, dos Libertines. Mas isso não trai, de forma alguma, a força de atracção destas guitarras (especialmente quando se revezam nos acordes), da voz de Alex Turner, das eficazes quebras de ritmo, do tom ora-brincalhão-ora-rebelde-ora-sedutor das letras, da frescura das dinâmicas das canções e, finalmente, de uma postura forte. Foi um concerto directo, explosivo, curto, sem direito a encore, como mandam os melhores manuais de rock.

Um desafio interessante era encontrar alguém no público que fosse mais novo que os elementos da banda, acabados de entrar na casa dos 20 (ou ainda no limiar). É um factor importante. Por um lado, pode ter directamente a ver com a sensação de novidade que transmitem e com a pujança com que agarram as canções em palco. Por outro, só os valoriza, porque a musculada segurança e o sentido de espectáculo desmentem essa juventude.

Não se sabe o que virá a seguir a canções como "I bet you look good on the dancefloor", "Fake tales of San Francisco", "Still take you home", "Perhaps vampires is a bit strong but..." ou "When the Sun goes down" (melhores momentos). Também não se sabe como vai a banda lidar com a pressão do segundo álbum (apresentaram material novo, mas não chegou para tirar conclusões). Deixemos a futurologia de lado e concentrem-nos no que aconteceu ontem. Na retina de quem esteve no Garage fica a memória de um concerto exactamente como (e quando) se queria e se previa. Ou melhor ainda.

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