Caricaturas de Maomé: Freitas do Amaral diz que condenar violência "não era o essencial"

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Freitas do Amaral classificou de "pouco interessantes" as questões levantadas pelo CDS André Kosters/Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, afirmou hoje que a condenação da violência gerada pela publicação de caricaturas sobre Maomé "não era o essencial", sublinhando que Portugal já tinha manifestado essa posição num comunicado conjunto da União Europeia (UE).

Na sua primeira intervenção na interpelação parlamentar pedida pelo CDS-PP sobre política externa, Freitas do Amaral explicou por que omitiu a condenação da violência no primeiro comunicado sobre a posição de Portugal nesta polémica, a 7 de Fevereiro, em que lamentava e discordava da publicação de caricaturas sobre Maomé, que "ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos" e incitam a uma "inaceitável guerra de religiões".

"Falta lá essa frase porque na véspera Portugal tinha votado com todos os 24 Estados membros da UE um comunicado condenando a violência nas embaixadas da Dinamarca e outros países", sublinhou Freitas do Amaral.

Por outro lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros revelou que, no mesmo dia em que emitiu o comunicado, escreveu uma carta ao seu homólogo dinamarquês a manifestar a solidariedade do Governo e do povo portugueses.

"Não me pareceu que sendo já conhecida de toda a comunidade internacional a posição portuguesa e havendo uma carta pessoal ao ministro dinamarquês fosse necessário, para consumo interno, falar no problema da violência", afirmou.

Freitas do Amaral acrescentou ainda que, na sua opinião, condenar a violência "não era o essencial, o essencial estava muito para além e mais fundo": "As ofensas enormes que tinham sido feitas a toda a comunidade islâmica com a publicação dos cartoons".

O ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou-se decepcionado com a primeira intervenção do CDS-PP, centrada na polémica das caricaturas sobre Maomé, dizendo que esperava que os democratas-cristãos quisessem discutir "grandes temas de política externa".

"Afinal apenas quiseram debater assuntos menores da pequena política interna", sublinhou Freitas do Amaral, classificando de "pouco interessantes" as questões levantadas pelo CDS-PP.

O debate entre o deputado do CDS-PP Telmo Correia e Freitas do Amaral começou de forma acesa, com o antigo líder parlamentar democrata-cristão a acusar o ministro dos Negócios Estrangeiros de "ter vergonha de ser ocidental e de viver em democracia".

Na resposta, Freitas do Amaral afirmou ter-se sentido insultado e deixou um recado a Telmo Correia: "Só espero que para o resto da sua vida sinta algum remorso sabendo o que eu lutei, quando o senhor ainda não era nascido ou andava de cueiros, para haver democracia e liberdade em Portugal (...). É preciso topete!", afirmou o ministro.

PCP, o BE e o PEV desvalorizam actuação de Freitas sobre caricaturas


Além da maioria socialista, também o PCP, o BE e o PEV desvalorizaram a actuação do ministro dos Negócios Estrangeiros no que respeita às caricaturas de Maomé, preferindo aproveitar a interpelação ao Governo sobre política externa para comentar outras matérias


O líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, referiu-se ao comunicado de Freitas do Amaral sobre as caricaturas de Maomé, considerando que teve "aspectos insuficientes" e que "teria beneficiado" em incluir a defesa da liberdade de expressão e a condenação da violência.

Elogiando a "intenção manifestada no comunicado" de Freitas de contribuição para a paz, o dirigente comunista interrogou o ministro sobre se "essa intenção se traduz na prática ou se continuará a política de seguidismo da administração Bush", enquanto o deputado do Partido Ecologista "Os Verdes" Madeira Lopes se manifestou a favor do diálogo e tolerância "entre o Ocidente e o Islão".

O deputado do Bloco de Esquerda (BE) Fernando Rosas subscreveu a acusação de que o CDS-PP agendou o debate por razões "do domínio freudiano de ajuste de contas com a sua paternidade simbólica" e acrescentou que o partido pretendeu apoiar "a guerra de civilizações" e a guerra "a novos alvos como a Síria ou o Irão".

Fernando Rosas quis saber "o que espera o Governo português para condenar formal e publicamente" o campo de Guantanamo e porque foi exonerada a conselheira social da embaixada portuguesa em Haia, na Holanda, quando há trabalhadores portugueses naquele local "explorados por empresários sem escrúpulos".

Apenas o PSD esteve ao lado do CDS-PP na condenação da actuação de Freitas do Amaral.

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