A fantasma apaixonada

Decididamente os nossos tempos não dão descanso aos fantasmas. "Enquanto Estiveres Aí" é mais um filme que pega em temas do além e se instala na zona de fronteira entre este mundo e o outro. Baseia-se num "best seller" e chama-se, no original, "Just Like Heaven", como a canção dos Cure, que aliás acompanha o génerico inicial em versão acústico-enjoativa, para voltar no genérico final em toda a energia do original (o melhor momento do filme, portanto, acontece depois do fim).

O espectador lembrar-se-á de um filme que Joseph L. Mankiewicz realizou em meados dos anos 40 chamado "The Ghost and Mrs Muir"/ "O Fantasma Apaixonado", a mais bonita história de amor com fantasmas alguma vez contada em cinema: Gene Tierney era uma viúva que se mudava para uma mansão por onde vagueava o espírito do antigo proprietário, um velho marinheiro interpretado por Rex Harrison. Apaixonavam-se, mas, questões de natureza corpórea ou incorpórea, só ao fim de muitos anos de espera, depois de Gene Tierney morrer velhinha, é que se podiam verdadeiramente encontrar. Pois bem, "Enquanto Estiveres Aí", com citação ou sem citação, conta uma história parecida.

Mark Ruffalo é o viúvo que se muda para uma casa habitada pelo espírito de Reese Witherspoon, a antiga proprietária (que "tecnicamente" não será bem um fantasma, por questões que quem vir o filme perceberá). É claro que se primeiro antipatizam - Ruffalo é tratado como um vulgar "squatter" - acabam por simpatizar fortemente um com o outro, depois de Ruffalo perceber que não se passa nada de errado com ele e de Witherspoon perceber que com ela, sim, alguma coisa não está a jogar bem.

A bem dizer, se a dupla gera uma química simpática e o próprio filme nunca a chega a ser verdadeiramente antipático (a não ser no final, empolado e excessivamente açucarado - qual esperar pela velhice qual quê), também não há muitas ideias para além da criação desta situação. Há um homem e há um espírito de mulher, e estão apaixonados. E depois o quê? Bom, depois é uma banal mistura de comédia romântica com "love story", servindo-se dos mesmos tipos de piadas e situações de outras misturas semelhantes e igualmente banais. É mais interessante quando é "peça de câmara" e se detém em Ruffalo e Witherspoon sozinhos em casa, é menos interessante quando se intrometem outras personagens, mais fracas e estereotipadas, ou quando o par central sai para a rua e todos os "gags" previsíveis acontecem. Pode-se dizer que no género já vimos pior do que isto, o que é tão verdade como dizer que já vimos bem melhor.

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