PSP nega "arrastão" na praia de Carcavelos

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A relatório desvalorizou as fotografias do incidente, que foram divulgadas Hélder Gabriel/Lusa (arquivo)

A Polícia de Segurança Pública nega a existência de qualquer “arrastão” na praia de Carcavelos, no dia 10 de Junho, num relatório hoje divulgado na Assembleia da República. A existência de um assalto de grandes dimensões havia sido avançada inicialmente pelas forças policiais.

"Verifica-se que as primeiras informações fornecidas que davam conta de um enorme arrastão a ocorrer na praia de Carcavelos não se confirmaram", refere o relatório da PSP elaborado para o Ministério da Administração Interna (MAI).

O relatório, enviado para o MAI a 12 de Julho, foi hoje desclassificado e apresentado na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias pelo secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna, José Magalhães.

“Onda de criminalidade”

Inicialmente, o comando metropolitano da PSP de Lisboa caracterizou as ocorrências na praia de Carcavelos como "uma onda de criminalidade" levada a cabo por "cerca de 500 indivíduos negros", recorrendo ao método "conhecido como 'arrastão'".

"Os elementos ora apurados, em conjugação com as imagens recolhidas, não configuram, contudo, qualquer situação de 'arrastão', caracterizado este como vulgarmente é conhecido no Brasil, em que um grupo de indivíduos assalta os banhistas, retirando-lhes pela força os bens que possuem", prossegue o documento.

O relatório elaborado pela direcção nacional da PSP regista que existiram no feriado de 10 de Junho na praia de Carcavelos "inúmeras incivilidades generalizadas", "alguns furtos e roubos" e "um ambiente de pouca tranquilidade provocado por alguns distúrbios entre indivíduos de origem africana e outros de nacionalidade brasileira e ainda com indivíduos de leste".

"Inexistência de denúncias de furtos ou roubos”

No entanto, nas suas considerações finais, o documento conclui que "a inexistência de denúncias de furtos ou roubos na praia não sustenta a tese do 'arrastão'".

"Não estamos em crer que se tenha tratado de uma acção generalizada previamente concertada", lê-se no relatório, que invoca como justificação os diferentes pontos de origem dos indivíduos entretanto identificados como tendo participado nos distúrbios.

Desvalorização de imagens divulgadas

Por outro lado, o relatório da PSP desvaloriza as fotografias divulgadas pela comunicação social e que mostram "diversos indivíduos a correr desenfreadamente provocando, aparentemente, o efeito visual de um arrastão".

"No entanto, dado o facto de nas mesmas serem visíveis agentes policiais, conclui-se que esta ocorrência se deveu aos receios dos mesmos à intervenção policial", conclui.

"Avaliação à distância é terapêutica e saudável"

O secretário de Estado da Administração Interna, José Magalhães, que compareceu na Comissão de Assuntos Constitucionais em resposta a um requerimento do PCP, sublinhou a importância de este documento ter sido desclassificado e disponibilizado ao público.

"A avaliação rigorosa, sem medo, de conhecer a diferença entre a reacção a quente e a avaliação à distância é terapêutica e saudável", considerou José Magalhães, sublinhando que "não há hoje ninguém apegado ao juízo analítico produzido a 10 de Junho, ninguém".

Para o secretário de Estado, a desclassificação do relatório da PSP foi uma prova da "capacidade de auto-crítica" do executivo.

"Retiramos lições da forma como o processo aconteceu, lições operacionais e de gestão da própria informação", reconheceu José Magalhães, que, no entanto, se recusou a avaliar o tratamento mediático deste assunto.

Na mesma comissão parlamentar, o director nacional da PSP, Orlando Romano, considerou que a intervenção das forças policiais na praia de Carcavelos foi "a intervenção possível, adequada e, sobretudo, proporcional ao que se verificava".

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