Um Amor em África

Título português um pouco enganador: o filme de John Boorman ("Country of my Skull" no original) é sobre os inquéritos da "comissão de verdade e reconciliação" com que os sul-africanos, em princípios da década de 90, ajustaram contas com o Apartheid. A parte do "amor" (uma história entre Juliette Binoche e Samuel L. Jackson, jornalistas que cobrem as audiências) é residual, e o pior que o filme tem. O veterano Boorman tornou-se um "académico", seguro, sim, mas também bastante preso de movimentos. "Amor em África" apresenta em seu favor a resistência à tentação de decorar os (muitos) testemunhos de atrocidades com recurso a "flash-backs" - durante a maior parte do tempo, as personagens vão percebendo as patifarias do Apartheid apenas por relatos orais (e essa secura acaba por ser o melhor do filme). Boorman resolve pior a necessidade de ter "personagens", e é aqui que entram Binoche e Jackson (esteréotipos, cheios de estilo pessoal, mas estereótipos) e a sua historieta. Que vai um pouco longe de mais e desequilibra fatalmente o filme, como alguém com a experiência de Boorman devia ter percebido.

Sugerir correcção
Comentar