A Cara Que Mereces

É uma obra singularíssima e, pelos vistos, há um preço a pagar por isso: numa altura em que se debate mais o público do cinema português do que o cinema português, já se diz por aí que "A Cara Que Mereces" é filme para deixar o espectador à porta só porque nele se circunscreve um território pessoal (mas transmissível: é só preciso ter tido infância), só porque é feito numa teia de cumplicidades (não foi isso a "nouvelle vague", cinema feito com os amigos?), só porque multiplica as linhas de fuga e os buracos negros em vez de ir de A a B (por vezes, os realizadores acreditam mais no espectador do que o espectador nos realizadores), ou só porque não corresponde a uma ideia formatada de cinema português. Não, nesse sentido, há até um corte (saudável), uma outra filiação que convoca outras cinematografias - Demy, Kitano, o Lang de "Moonfleet". Não há por aqui "clichés" de qualquer espécie, a não ser o de que a infância é um lugar de fantasia. Agora é só esperar que o cinema de Miguel Gomes cresça.<p/>

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