Um monumento, um concurso de poesia e exposições são alguns dos projectos culturais com que a Câmara de Almada pretende assinalar o segundo ciclo de comemorações do centenário do nascimento do poeta chileno Pablo Neruda, que começa no domingo.

O segundo ciclo - que decorre até 17 de Abril no Convento dos Capuchos, na Caparica, e no Fórum Romeu Correia, em Almada - realiza-se seis meses depois do primeiro, em que o município atribuiu o nome do escritor e diplomata (1904-1973) a uma estrada e a uma sala de um espaço cultural.

No domingo, será inaugurado, no miradouro do Convento dos Capuchos, o monumento de homenagem ao Nobel da Literatura, da autoria do escultor José Aurélio, intitulado "Mil Olhos". A escultura, em aço e cobre, tem sete metros de altura e, de acordo com o seu autor, sugere um livro que se abre para o mundo. "São duas peças que estão afastadas uma da outra por um rasgo que abre uma 'janela' sobre o mar, o céu, a paisagem. É a brecha que o Neruda abriu ao criar um espaço poético de dimensão universal", descreveu à Lusa o escultor José Aurélio.

No âmbito das comemorações será também inaugurada uma exposição bio-bibliográfica, que apresenta, até 15 de Maio, fotografias, livros e painéis informativos sobre a vida e obra do escritor. A venda de gastronomia, música, literatura e artesanato chilenos completa a programação desse dia. O cartaz das comemorações prevê, em Abril, uma palestra acerca do poeta, um espectáculo de música popular chilena com a pianista Olga Pratts, um recital de poesia de Pablo Neruda e uma mostra de fotografias a preto e branco do chileno Roberto Santandreu, inspirada nos versos das "Odes Elementares" (1954).

Nesse mesmo mês serão entregues os prémios do concurso de poesia "Vinte Poemas de Amor dos Jovens de Almada". Baseado na obra "Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada", que Pablo Neruda publicou em 1924, o concurso destina-se a alunos das escolas secundárias do concelho e tem o seu momento alto com a declamação dos poemas vencedores pelos seus autores.

Entre 14 e 17 de Abril, realiza-se um ciclo de cinema chileno contemporâneo, que conta com a estreia nacional, no dia 16, de "Machuca", de Andrés Wood, e a exibição, no dia 17, de "Ardiente Paciencia" (O Carteiro de Neruda), de Antonio Skármeta. A projecção do filme será seguida de um debate com o autor, com o encenador Joaquim Benite e com o actor André Gomes, que protagonizou para a Companhia de Teatro de Almada a figura do poeta na peça "O Carteiro de Pablo Neruda".

Ao associar-se à Embaixada do Chile nas comemorações do centenário do nascimento do poeta premiado em 1971 com o Nobel da Literatura, a Câmara de Almada quis perpetuar o seu nome no concelho e incentivar a comunidade escolar a ter um maior conhecimento da sua vida e obra.

Reconhecido como o poeta do amor, Pablo Neruda (pseudónimo de Ricardo Reys Basoalto) foi diplomata, viajante e um acérrimo defensor da liberdade e da democracia. Comunista, amigo do poeta Garcia Lorca, do pintor Picasso e apoiante do presidente chileno Salvador Allende, Neruda foi cônsul no Oriente, Argentina, México e Espanha e embaixador em França, país que o acolheu durante as perseguições políticas de que foi alvo. Em Itália, onde também esteve exilado, escreveu os conhecidos "Versos do Capitão" (1952). O mar e as mulheres serviram-lhe sempre de fonte de inspiração. Quis ser sepultado na ilha Negra, no Pacífico.