Bobby darin - o amor é eterno very sentimental

O objecto, ou o sujeito, do filme, é altamente estimável. Darin era um cantor bastante razoável, e se como compositor não deixou marcas profundas algumas das suas "covers" foram particularmente felizes ("Mack the Knife" ou, a partir de "La Mer" de Trenet, "Beyond the Sea"). Por outro lado, descola-se dele uma certa aura de fragilidade - tanto pela figura franzina e adoentada como pelo facto de a sua carreira se ter desenrolado "fora de tempo", ensanduichado (em termos de popularidade e de modas) entre a "geração Sinatra" e a "geração Beatles".

Estes dois últimos aspectos seriam aparentemente os mais aproveitáveis em termos dramáticos, e o filme aproveita-os para aquilo a que eles mais se prestam: uma observação sobre a relatividade do "sucesso" e do "fracasso", e sobre uma insatisfação que tendo raízes internas precisa, para o apaziguamento, do reconhecimento externo. Mas aproveita-as mal. Spacey envereda por uma estrutura demasiado episódica, demasiado centrada em rodriguinhos sentimentais (a relação com a mãe, primeiro, o casamento com Sandra Dee, depois) e num enredo demasiado folhetinesco por onde se sente a personalidade do biografado a escapar-se. Aliás, vê-se mais Kevin Spacey a fazer de Darin do que a personagem (e isto, atenção, não é um elogio), e há óbvios problemas de "suspension of disbelief" quando Spacey, sem alterações substanciais na maquilhagem, faz o Darin de 20 anos igualzinho ao de 40. Por outro lado, inventa um dispositivo narrativo (Darin na rodagem do seu próprio "biopic", que portanto é e não é o filme que podemos ver) que releva tanto de um "síndroma Citizen Kane" (os "flashbacks") como representa uma artimanha para que a sua interpretação de Darin "passe" melhor (visto que a "representação" é assumida). E depois, manifestamente, não sabe com terminar o filme: querendo evitar a figuração da morte de Darin, propõe um encontro com o seu duplo em criança, para um derradeiro número musical - mas nem isto lhe sai com muita felicidade (e estamos a ser simpáticos), tendo escarrapachada a vontade de "fazer musical" (como nos números ao longo do filme, réplicas pálidas de alguma coisa que estará entre "West Side Story" e os filmes de Demy).

Um dos melhores (e mais atípicos, e mais obscuros) filmes de John Cassavetes, "Too Late Blues", Bobby Darin interpreta o papel dum musico. Saímos de "Beyond the Sea" a lembrarmo-nos dele, e em como esse Darin parecia bem mais dorido e "real" do que o que Spacey acabou de nos retratar.

Sugerir correcção
Comentar