Anti-inflamatório Vioxx deveria ter sido retirado do mercado há quatro anos

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O Vioxx representava em Portugal seis por cento de todos os anti-inflamatórios comercializados Daniel Rocha/PÚBLICO

O medicamento anti-inflamatório Vioxx deveria ter sido retirado do mercado há quatro anos, pois já existiam provas suficientes de que aumenta o risco de enfarte do miocárdio, avança um estudo publicado hoje narevista médica "The Lancet".

O Vioxx, que era o anti-inflamatório mais vendido em Portugal, foi retirado do mercado nacional e em todo o Mundo no final de Setembro. O grupo farmacêutico norte-americano Merck explicou então que a decisão se baseou num estudo que revelava um ligeiro aumento de problemas cardio-vasculares associados à toma prolongada daquele fármaco.

Contudo, segundo o estudo publicado hoje pela revista médica britânica, "os dados mostram um aumento do risco de enfarte do miocárdio após apenas alguns meses de tratamento, e que esse risco é independente da dose".

A equipa de Peter Juni e Matthias Egger, da Universidade de Berna, reanalisou 29 estudos, e concluiu que há quatro anos existiam dados que apontavam de forma clara para os riscos associados ao medicamento, cuja substância activa é o rofecoxib e que é normalmente prescrito para a artrite e a dor aguda.

"A nossa análise confirmou o que suspeitávamos - desde finais de 2000 que havia dados que provavam um risco acrescido de doenças cardio-vasculares" associado ao medicamento, disse Peter Juni, especificando que, na época, foram registados 52 casos de enfarte num universo de 20.742 pacientes observados, 41 dos quais em pacientes tratados com Vioxx.

O aumento do risco cardíaco revelado pelo estudo Vigor, datado de 2000, foi atribuído pelos responsáveis do estudo a um suposto efeito protector do medicamento Naproxene, e não a um efeito secundário indesejável do Vioxx, ao qual foi comparado, apontam os autores deste novo estudo.

Para evitar análises demasiado favoráveis aos produtos estudados, os autores "recomendam que os dados e resultados deste tipo de estudos sejam objecto, no futuro, de uma avaliação independente".

No início de Novembro, a FDA - a agência norte-americana do medicamento - estimou que, entre 1999 e 2003, o Vioxx foi responsável por 27.785 enfartes de miocárdio ou mortes por crise cardíaca nos Estados Unidos.

Em Setembro, por ocasião do anúncio da retirada definitiva do medicamento do mercado, o director-geral da Merck, Sharp & Dohme portuguesa, José Almeida Bastos, disse em conferência de imprensa realizada em Lisboa que o Vioxx representava em Portugal seis por cento de todos os anti-inflamatórios comercializados. Os médicos faziam por mês 50 mil prescrições deste produto, cujo valor de mercado atingia os 18 milhões de euros por ano.

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