Com todas as surdinas e silêncios do mundo

"O Guerreiro" visita o filme de época numa Idade Média de suseranos e vassalos, nos confins da Índia, representada de forma minimal com uma atenção pormenorizada aos corpos (abre com um grande plano de cara que dá o tom ao tratamento dos rostos) e à secura da paisagem.

A composição das imagens é cuidadosa como numa tela em que se escrevem os sentimentos controlados das personagens. Embora possua parentesco evidente com o "filme de samurais", opta sempre por um esteticismo requintado, que constitui a sua maior riqueza, estabelecendo também os seus limites: lento e documental no modo como trata as montanhas e as paisagens semi-desérticas, "O Guerreiro" procura o outro lado da espectacularidade, analisando pequenos gestos, violências gratuitas ou desesperos surdos. Tudo se conta com a simplicidade misteriosa de um percurso iniciático, exigindo do espectador uma atenção ao jogo dos corpos no espaço, como se cumprissem as etapas da desconstrução da epopeia num épico de câmara, com todas as surdinas e silêncios do mundo.

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