Tempo da reorganização

Qualquer coisa indeterminada "suspende" a civilização de conforto e tecnologia em que vivemos, e tudo volta à estaca zero. Este é o ponto de partida de Haneke para mais uma alegoria sobre a sociedade contemporânea, com Isabelle Huppert no papel de uma mãe de família que é surpreendida pela catástrofe durante umas férias no campo.

Como já nada existe, nem a lei nem a sociedade, o "tempo do lobo" é o tempo da reorganização de indivíduos e grupos, da mera sobrevivência como objectivo, da subversão das relações de poder e de classe, da diluição da moral face ao animal (lobo?) que há dentro de cada humano. Esquematizado e prisioneiro de simbolismos pacóvios (o miúdo e o fogo, por exemplo), nem por isso muito imaginativo (Haneke quer ser "plausível"), mal resolvido, "O Tempo do Lobo" é uma espécie de anúncio da descoberta da pólvora: é que um tipo lembra-se que há mais de 40 anos que o velho Buñuel filmou "isto", no "Anjo Exterminador", de maneira muito mais complexa, ambígua e perturbante.

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